The Roots - How I Got Over


"How I Got Over" regista o regresso dos "The Roots", agora com o seu nono álbum oficial. Naturalmente com nove álbuns há muito para contar, além do mais, demasiado para contar, tal a dimensão do percurso da mais famosa "banda" que o HipHop já conheceu. Um percurso, que em termos acumulativos, contou com bastantes membros que com os tempos se foram revezando até à composição actual que se pode ver durante o talk-show Late Night with Jimmy Fallon( LNJF) na NBC ou então na nossa Sic Radical.

Apesar das alterações da composição da banda quase de disco para disco, como se se tratasse de um clube de futebol sujeito às leis do mercado de transferências no final da época, também aqui se pôde aplicar uma velha máxima "As pessoas passam e a instituição fica" pois o trajecto de quase 20 anos manteve-se coerente aos ideais que geraram o grupo e personalizados pelos carismáticos Black Thougth e Questlove.

Falar de "The Roots" para além de aliciante é um motivo de enorme orgulho para o HipHop. Ter este tipo de porta-estandarte que vai muito além deste género musical das rimas e das batidas, sendo até comuns comentários do género " Não gosto de HipHop, mas curto The Roots" dá para perceber que as particularidades desta banda tiveram um alcance significativo.
Analisar o percurso dos Roots ao longo de todos estes anos seria um case-study interessantíssimo, porém foquemo-nos no que "How I got over" tem para oferecer.

Dados concretos: cerca de 45 minutos de duração repartidos por 14 temas, 3 deles instrumentais praticamente interlúdios e um número significativo de participações, sendo o " significativo" um atributo também qualitativo.

Sabendo da importância de uma primeira impressão, os Roots têm aqui um claro sinal de rotura com o clima mais pesado e obscuro dos dois discos anteriores, não que estes tivesssem défices de qualidade mas não eram tão acessíveis a uma primeira audição quanto este mais recente. Leituras mais precipitadas poderiam ligar isto directamente ao facto de serem a banda residente do LNJF contudo só isso não explica este regresso a um optimismo tão expressivo na primeira década do grupo.

O álbum inicia-se com "A piece of light" um suave instrumental trauteado que nos embala os sentidos para os minutos que se avizinham. Segue-se "Walk alone" sob um piano e uma bateria minimalistas onde os mc's enumeram e enfatizam os momentos de solidão e isolamento da nossa existência.

"Dear God 2.0" trata-se de uma sequela da música original dos Monster of Folk (daí o 2.0), cujo refrão ficou a cargo do próprio vocalista da banda. O tema insurge-se perante Deus com uma série de questões que o Homem eternamente fez e continua a fazer, embora sempre sem qualquer resposta concreta.




Chegados aqui, o álbum começa a querer tomar vida própria porque o volume sobe gradualmente tal como a cadência da bateria e o flow dos mc's. "Radio Daze" é o exemplo prático disso tal como "Now or never", agora com uma bateria mais comedida que a faixa anterior onde Phonte (Little Brother), Black Thought e Dice Raw se revezam ao referir a importância das oportunidades da vida e que por vezes estar no sítio certo à hora certa pode realmente fazer a diferença.

Seguindo o discurso de auto-motivador, "How I got over", o single homónimo do disco, centra-se na crua realidade da escola de rua embora se note que no fantástico refrão de Dice Raw (mais um!) está implícito o desejo de superar a situação.

Out on the streets, where I grew up
First thing they teach us, not to give a fuck
That type of thinking can’t get you nowhere
Soooome-onnnne haaaas tooooo care

Destaque ainda para a pujança deste single, que quando apresentado ao vivo no Late Night with Jimmy Fallon deixou as expectativas altíssimas para aquilo que se avizinhava.




Estamos a meio da viagem e apercebemos que as suaves transições entre os temas são uma constante, as faixas até aqui funcionam como um bloco coeso e coerente porque o binómio produção e escrita foi criando um cordão bem entrelaçado.

"The day" transpira a ideia de "Carpe diem" com o regresso com BLU e Phonte nas colaborações, destaque ainda para o critério de escolha por parte dos Roots quanto a mc's que se enquadram perfeitamente na linha de rap do grupo.

"Right on" conta com mais uma repescagem de um tema original de Joanna Newson, "The Book of Right On" do álbum "The Milk Eyed-Mender" (2004) resultando numa das faixas mais poderosas do disco.

"Doin it again" e "The Fire" materializam ambas uma lição de perseverança, tal como refrões desta vez à conta de Jonh Legend e que deixam antever aquilo que se poderá encontrar brevemente da parceria de Roots/Jonh Legend no disco "Wake up".




"Web 20/20" é o tema de alta voltagem do disco que fica marcado pelo rpm's elevados e pelas duas últimas colaborações do disco, Peedi Peedi e Truck North.

Sobra a faixa bónus "Hustla" com o mesmo STS, um dos responsáveis pelo toque de Midas em "Right On", só que desta vez sem as mesmas repercussões. A faixa dispensável do disco.

Em suma, é praticamente unânime que estamos perante um dos grandes álbuns do ano, integrante de uma das mais completas discografias que um grupo de HipHop ousou ter. Os "The Roots" não precisavam sequer de editar qualquer outro disco para figurar no Hall of Fame, contudo com um disco como "How I Got Over" o atributo " legendary" que é feito a cada apresentação da banda no LNJF é completamente justificado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muiito bem falado! continuem!

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