Gifted Unlimited Rhymes Universal
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Posted by Druco

Serve a introdução sobre o pensamento de Saramago e a sua ausência terrena para prestar homenagem a um artista do Hip Hop que também ele há pouco tempo faleceu. Porém, enquanto nos lembrarmos das pessoas e elas viverem permanentemente no nosso peito, elas não estarão mortas. E quem pode esquecer ou deixar de ter a viver no peito o nobilíssimo Guru?!
Gifted Unlimited Rhymes Universal nasceu como Keith Edward Elam a 17 de Julho de 1961 (embora haja versões que indiquem que nasceu em 1966, mas segui como mais confiável a data que o sobrinho de Guru avançou no documentário que fez em sua homenagem). Guru é originário de Boston, filho do primeiro juiz negro da cidade e a sua mãe era co-directora de uma rede de bibliotecas públicas pertencentes ao sistema escolar. O jovem Keith formou-se em Gestão de Empresas e parecia destinado a ter um futuro risonho na área em que se graduara. Porém, a música mudou-lhe a vida. Apaixonou-se pelo rap, decidiu investir nesse sonho e perdeu-se quiçá um bom gestor. No entanto, o rap e o Hip Hop ganharam definitivamente um dos seus maiores ícones de todos os tempos!
Guru será incontornável na História do movimento e da música porque explorou o seu imenso talento, fazendo parelha com o prodigioso DJ Premier, num dos duos mais adorados pelo público. A química resultante entre o MC e o DJ era de tal maneira perfeita que não havia maneira de um brilhar mais do que o outro. Parecia predestinação o facto de se terem juntado, o que foi maravilhoso para o Hip Hop, pois as qualidades de ambos deram projecção e crédito à cultura, que tinha ali dois baluartes a protegê-la. A discografia de Gangstarr é ímpar e são incontáveis os clássicos que consecutivamente o duo foi colocando nas ruas.
A inteligência nas rimas e a postura na indústria musical trouxeram o respeito para Guru. Catalogado como o rei do “flow monótono”, fez disso um estilo e no ritmo pausado, que batia certinho com as majestosas batidas de Premier, lançava as suas linhas cortantes, irónicas, pujantes, pesadas de consciência. A voz inconfundível de Guru era das vibrações mais lúcidas e harmoniosas que se podia escutar no meio do xinfrim que a certa altura começou a ser o rap. Quase funcionando como um guardião de uma certa essência da fundação, das raízes, Guru mantinha-se coerente com as directrizes dos primórdios do Hip Hop, permanecia fiel à sua gente e suas dificuldades, sem nunca colocar reservas ou mordaças ao seu rap. Frontal, afirmando as suas convicções e opiniões, nunca teve a tentação de se auto-moderar, tendo em vista vender mais discos. É que apesar de toda a admiração mundial por Guru e Premier eles nunca venderam o que outros artistas do rap, mais promovidos e badalados pela máquina da música mas de tom mais ligeiro, conseguiram alcançar.
Para Guru, o mais importante sempre foi a arte e não o negócio. Gangstarr exemplifica isso na perfeição. Excelentes discos, soberbas críticas, a aclamação dos fãs de rap mas também da música, em geral. No entanto, Guru era um espírito inquieto e não lhe bastava a parceria com DJ Premier. Reforçando o apreço pela música antiga, ele inicia um projecto de nome “Jazzmatazz”, que pretendeu reunir músicos já com história e que admirava, fazendo simultaneamente o intercâmbio com jovens talentosos que despontavam. Toda a paixão pela música e magnimidade pela arte a ser posta em evidência por parte de Guru. A saga foi um sucesso que coleccionou vários entusiastas e prestava-se a celebrar a fusão do rap com os caminhos do Jazz e da Soul fundamentalmente, mas também a convivência e troca de experiências entre os antigos e os novatos. Guru era o cicerone, o mediador, o mentor. O mestre impulsionador justamente.
A vida de Guru, porém, não se fez sem atribulações. Para além do seu feitio complicado com os meandros da indústria musical, o rapper cansou-se (ao que consta) do projecto Gangstarr e decidiu dar um tempo. Correram boatos que o duo se havia extinguido e que Guru e Premier tomariam caminhos individuais. Ambos formaram as suas editoras e Guru junta-se ao produtor Solar, com quem estabelece profundos laços e edita dois álbuns através da sua 7 Grand Records. Houve muita pressão dos fãs e dos media para que Gangstarr voltasse, mas sempre que Guru abordava o assunto parecia ficar mais claro que dificilmente os excelentes MC e DJ se iriam encontrar de novo em estúdio.
Tristemente, a 28 de Fevereiro de 2010, Guru sofreu um ataque cardíaco, adoeceu, descobriram-lhe um cancro, esteve algum tempo em coma e várias situações desagradáveis eclodiram com Solar, que se assumia quase como porta-voz de Guru. Lamentavelmente, não chegava a tragédia que se abatia sobre o lendário rapper e estalava a polémica com Solar que, segundo sempre foi veiculado, pretendia lucrar com a situação de Guru e assenhorar-se de alguns direitos do legado do rapper. Infelizmente, Guru sucumbiu à doença e o seu coração parou a 19 de Abril de 2010...
Não sei se se passou como Saramago dizia ou se Guru passou de um estado para o outro ou se está no paraíso ou se assumiu uma outra forma para estar presente neste mundo. O que eu sei é que Guru está vivo. Na música que nos deixou. Na lembrança que temos dele. Guru está na galeria dos mais geniais rimadores do rap e das pessoas mais influentes de sempre da História do Hip Hop. Não há erro algum que possa ter cometido que faça com que isso deixe de ser a verdade. Partiu cedo demais... Se Guru está no paraíso, Deus tem de certeza uma predilecção secreta pelo rap e fomenta um qualquer projecto grandioso para todos os que chamou tão cedo para junto de Si. Não obstante isso, e socorrendo-me de uma brilhante ideia musicada por Fuse, e que se adapta perfeitamente ao caso do rapper americano, se Guru faleceu no mundo físico, ele há-de ser eterno nos nossos ouvidos!
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