Sobre o BRS...

Pois é, nós sabemos que o blog tem estado parado. A disponibilidade de todos nós para nos multiplicarmos em iniciativas (blogs próprios, blog conjunto) é reduzida, o que fez com que esta aventura fosse ficando em segundo plano.


Assim sendo, e porque gostamos de colaborar embora as oportunidades não sejam muitas, decidimos que o blog BRS vai ficar por aqui, mas a crew não.

A "label" vai continuar a identificar-nos enquanto colectivo - Sempei, Druco, Nicolau e A. Silva - pelo que vamos investir na nossa página do facebook, onde serão publicadas as actualizações dos nossos respectivos blogs, assim como de outros conteúdos que achemos interessantes.

Agradecemos a todos os que foram lendo o blog e que nos têm apoiado ao longo dos anos!

Hip Hop Strikes Back at ANH

Muito tem sido dito e escrito sobre a Associação Nacional do Hip Hop, a associação criada com o objectivo de roubar uma cultura com mais de três décadas de existência.

Pouco temos a acrescentar, aqui no BRS. Por iss vamos fazer deste post um agregador de todas as reacções que têm vindo a surgir.

Nicolau
Hip Hop marca registada?! Fuck ANH
Email enviado à ANH
Email enviado ao site HHDX
Resposta da ANH
A verdade sobre a ANH

Primouz
Fuck ANH!!!

Hip Hop Pulsação
Fuck ANHH!

Mr. Dheo (autor acidental do logotipo)
ANHH - Email enviado à ANHH e Reacção ao email enviado à ANHH
Capítulo ANHH Palavra Final
Direito de resposta à explicação pública da ANHH

N.A.D (autores acidentais do hino)
Esclarecimento por parte dos NAD sobre o seu suposto envolvimento na ANHH


Spasm

Facebook
Anti-Associação Nacional de Hip Hop (com muitos comentários interessantes...)
Movimento pela destituição da Associação Nacional de Hip-Hop

Associação Nacional de Hip Hop
Explicação

HipHopDX
An Organization Accused Of Falsely Claiming Trademark Ownership Of The Word "Hip Hop"

Conformidade - Part 2



Às vezes ficamos com a nítida sensação de que o Hip Hop é um estilo de música que progride linearmente e com um conjunto de regras que deve ser respeitado. E isso pode até ser verdade. Mas quem é que define esse conjunto de regras? Quem é que te diz: aqui está um quadrado desenhado no chão, fora dele já não és hiphoppa ou a música que fazes já não é rap? Isto preocupa-nos (embora possamos negá-lo) porque fazemos parte de um grupo e queremos sentir que somos aceites, ou seja, por outras palavras, queremos estar em conformidade com ele. Isto cria um efeito de grupo que faz com que se reúnam consensos em torno de certos princípios e ideias que são apenas ilusórios. Isto acontece porque, na nossa ânsia de ser aceites pelo movimento, pela corrente já estabelecida, adoptamos como próprias visões com que nem sempre concordamos.

E isto também é válido para os artistas que fazem música e para os bloggers que escrevem artigos. No primeiro caso, é a noção daquilo que “o público quer”. Ora se o próprio público já está condicionado para gostar de certo tipo de música de que, se calhar, não gosta verdadeiramente, será que faz sentido fazer música para este conceito ilusório de “massas”?

No segundo caso, é o conceito daquilo que as pessoas querem ler. E sobre isto gostava de dizer algo. Ao contrário dos músicos, os bloggers não têm o incentivo financeiro para tentar "agradar ao público". A sua única motivação é partilhar experiências e pensamentos com quem se identifique. Provavelmente, o “público” gostaria de ler coisas como “Top 10 dos melhores álbuns de 2011” ou críticas maldosas a álbuns que considerássemos maus. Mas hey, quem somos nós para dizer que álbum x é melhor que álbum y? E mesmo que fosse a votos – o próprio público já está influenciado para escolher de acordo com os parâmetros definidos pelo “grupo”, parâmetros esses que adoptaram de forma inconsciente.

Para melhor compreender esta questão da conformidade, ver este vídeo:



Para concluir, não escrevi este artigo para dizer que os novos ouvintes não se devem informar e procurar conhecer a cultura. Escrevi este artigo para sublinhar a importância do pensamento independente. 

E mais importante que tudo: não existe pensamento independente sem existir primeiro pensamento informado. 

Conformidade - Parte 1

Hoje gostava de falar sobre um tema que talvez pareça estranho mas que considero de soberba importância – conformidade. Já acompanho o movimento há algum tempo, pelo menos o suficiente para detectar alguns padrões e comecei a perceber que quando um novo hiphoppa entra no movimento, passa invariavelmente por 5 fases. Vejamos quais são.



1) Entusiasmo – Tudo é novo e espantoso. O noob descobre que há rap um bocado diferente daquele que passa na televisão. Dependendo do gosto, o noob mergulha no mundo do rap indiscriminadamente, ouve tudo, gosta de umas coisas, não gosta de outras, mas tudo é espectacular, desde Lil Wayne a Buraka Som Sistema, desde Notorious BIG até 50 cent. Não existe nenhuma fronteira definida daquilo que é rap ou deixa de ser. Tudo é válido.

2) Massacre Total – Começa-se a aperceber que afinal, o rap não está todo ao mesmo nível. Há sub-géneros dentro do rap e há que escolher em que crew se quer estar. Se curte gangsta rap, não ouve indie. Se curte bounce, não ouve rap de intervenção. Se ouve rap de intervenção, não ouve mais estilo de música nenhum. O pessoal do movimento percebe tanto de rap que é impossível abrir a boca sem dizer algo de incrivelmente estúpido ou ser imediatamente dizimado. Surge a hora de estar caladinho e ir fazer o trabalho de casa. Ouvir uns quantos clássicos, decorar o nome de algumas editoras, saber o nome de produtores e DJs importantes de quem nunca tinha ouvido falar. Perceber qualquer coisa das outras vertentes é um bónus.



3)  Defensor da Verdade – O noob já não é noob. Agora é um verdadeiro hiphoppa. Já ouviu o que tinha a ouvir, escolheu a sua afiliação, decorou todos os nomes de todos os artistas e labels que se incluem nesse estilo de rap e dedica-se agora a carregar a bandeira da Realness aos ombros. É ele que dizima noobs que ouçam rap mainstream/para o club/nerd/emo/hipster/wareva. Hiphoppa totalmente respeitado pelos seus pares pelo conhecimento que adquiriu. Já sabe de que artistas pode gostar ou não e já consegue participar em discussões fundamentais, tais como Just Blaze versus Green Lantern, Premier versus Solar (se estás a ler isto e não sabes quem sai vencedor desta, ainda estás na fase 1) ou 9th Wonder versus Alchemist.

4) Revelação – Ups. Parece que afinal, depois de tudo isto, ainda há certos artistas de que não era suposto gostar e afinal gosta. Um fiel adepto da Babygrande que ouve The Cool Kids às escondidas. Um fervoroso adepto da Rhymesayers que não passa sem Ill Bill. Um soldado da G-Unit que ouve Immortal Technique. Começa a pensar que, se calhar, todas estas regras daquilo que é o verdadeiro hiphop não são tão lineares como parecia à primeira vista.



5) A confiança da experiência – Já sabe praticamente tudo o que há para saber. Punchline, indie, minimalista, gangsta, egotrip; até já quase distingue o analógico do digital só de ouvido. E também se apercebe que o hiphp é uma cultura cheia de diversidade que tem as suas raízes em estilos de música pré-existentes como talvez nenhum outro estilo tenha. E isso quer dizer que é um estilo em constante evolução – não faz mal ter novos gostos, não faz mal gostar de música pela música. É neste momento que há a confiança para dizer, hey estes OFWGKTA são do caraças. Ou então, a nova música do Dre com o Eminem está tão gay.

Worry not, caro leitor, eu tenho um objectivo com esta conversa.

Mas vai ficar para o post 2, que este já vai longo e eu sei que vocês não gostam de posts muito grandes. :)

Sangue novo, coração velho

O Hip Hop está cada vez mais rejuvenescido. Não só pelas roupagens que as novas gerações e tendências lhe atribuem, mas também pelo crescente aumento de aficionados juvenis. É um facto. Basta atentar no número de jovens (baseio-me no intervalo 12-18 anos) que acorrem aos concertos, os vídeos que muitos deles põem na net, onde se exercitam na arte das rimas. E é precisamente por aqui que nasce o âmago da questão que me leva a escrever este texto: estaremos nós a cair vertiginosamente na banalização do MC? A minha resposta é não. Não, porque de facto a queda já se concretizou.

Ao longo dos últimos anos, e sobretudo a partir da dobragem do milénio, temos assistido ao disparar da massa de seguidores de Rap/Hip Hop. Ora isso tem um lado bom mas acarreta também o lado inverso. O que acontece quando o Hip Hop arrecada um novo adepto? Este geralmente fica de tal forma deslumbrado ao ponto de querer ser um componente da cultura. "Se o Sam The Kid consegue sacar grandes rimas eu também hei-de conseguir"; "Com uma mpc na ponta dos dedos sou o novo Dr. Dre". O passo seguinte? Adoptar a linguagem característica dos hiphopers, renovar o guarda-roupa com trajes de "MC", comprar uma mpc ou um teclado se o intuito for a produção, quem sabe até formar uma crew, e... continua a faltar alguma coisa. Por mais habilidoso que seja nas rimas, por muito que possua um flow consistente e certeiro, nunca chegará ao hall of fame do Hip Hop sem a aquisição de conhecimento, o tal knowlegde por que tanto se apregoa. Sem essa parte (invisível mas vital) arrisca-se a nunca ser levado a sério, tanto o MC como o próprio Hip Hop – e neste caso o rap particularmente. Os novos rappers (ou aspirantes a sê-lo) têm aproveitado o facto de os meios tecnológicos permitirem actualmente a propagação da música com uma facilidade incrível, e tudo de forma barata, mas acabam por se tornar também eles uma cópia barata uns dos outros.

Desprezar o conhecimento é quebrar e condenar a arte logo à partida. Não basta agir de forma expressiva, é primordial começar pelo acto construtivo. É todo um processo de aprendizagem e maturação que advém da partilha de conhecimentos, experiências e vivências. É deveras proveitoso aprender com cada pessoa, ganhar afinidades, estudar a arte, interpretá-la, isto tudo sem nunca descurar, como é lógico, a prática e o aperfeiçoamento das habilidades individuais. Estes deveriam ser alguns dos princípios basilares para o movimento evoluir e ganhar alguma bagagem de reconhecimento e respeito. Parece-me até ser contra natura andarmos constantemente a exigir respeito por parte de quem menospreza o Hip Hop e que pouco o valoriza, e não começarmos nós próprios por impor esse respeito, organizando, consciencializando e unificando o meio e seus intervenientes.

A ideia que geralmente impera no pensamento dos jovens que se atiram de cabeça para o rap é que basta o talento (ou o seu melhoramento) e a habilidade no mic para singrar. Mas se estes não tiverem alicerces que os sustentem acabarão por ruir e passar à história. É preciso traçar caminhos e desbrava-los para se chegar a um fim com cabeça, tronco e membros. Outra questão que parece coabitar com a anterior é a compulsoriedade de se ser MC, B-Boy, DJ ou Writer para fazer parte desta bela cultura. Nada mais errado. Desde que o conhecimento seja um dado adquirido e desde que façamos uso dele de forma proactiva nada ficamos a dever aos MC's e restantes elementos.

Acredito sinceramente que o Hip Hop nunca morrerá, porque os que hoje o mantêm de pé e a respirar continuarão a respeita-lo e a cuida-lo de todas as impurezas. Mas é essencial que os velhos guardiões da cultura transmitam aos mais novos esta importante missão, pois para preservar os seus valores é necessário conhecer-se a história, para assim propaga-la às gerações vindouras. A cada ano que passa o coração do Hip Hop bombardeia sangue novo por todas as suas vertentes, mas o passar dos anos também tem feito o coração bater mais vagarosamente, até porque está cada vez mais velho.

Next: A primer on urban painting [Trailer + Documentário completo]


"NEXT: A PRIMER ON URBAN PAINTING is a documentary exploration of graffiti-based visual art as a world culture. The filmmaker profiles the art form in nine countries including USA, Canada, France, Holland, Germany, England, Spain, Japan and Brazil. A combination of verite moments and interviews with painters, "writers", designers, documentarians and other participants within the subculture, the film conveys the dynamism and creative brilliance of this important emerging artistic movement"

Documentário completo ( 1h 35min) logo aqui!




Via Periférica


No seguimento do post " Graffiti Jam Session 2010@Maia 14.11.2010" deixo aqui um pequeno documentário acerca do local emblemático onde esse mesmo "evento" aconteceu.


Via Periférica from Nuno Alves on Vimeo.

Tote King - El lado oscuro de Ghandi


É com bons olhos que o rap espanhol vê o regresso de um dos seus filhos pródigos. Não queria arriscar mas parece-me ser, a par de Nach, o mc espanhol mais exportável.

Para aqueles que contactam pela primeira vez com este, Tote King é um dos nomes mais sonantes do HipHop espanhol. Proveniente de Sevilha, uma cidade reputada no meio, não fossem os veteranos SFDK, Juaninacka, Mala Rodriguez ou até Shotta ( irmão de Tote) oriundos da mesma cidade.

Tote, conta já com um percurso discográfico bastante significativo com cerca de 10 anos repartidos em prestações individuais, em parceria com seu irmão Shotta ou então com o colectivo sevilhano "Alta Escuela".

Nas primeiras mixtapes e álbuns onde participou distinguia-se pelo seu flow rendilhado e pertinência nos versos. Os seus primeiros discos oficiais, a solo, "Tu madre es un foca"( neste ainda em parceria com Shotta) e "Musica para enfermos" revelou o imenso potencial deste rapper que acabou por ser consagrado à terceira em 2006 com o magnífico "Un tipo cualquiera". Um título apontado ao facto de que não era preciso ser excêntrico para ser rapper.

Não foi necessário muito tempo ou sequer marketing para concluir que estávamos perante um dos discos mais sensacionalmente escritos e rimados na língua de Cervantes.(podem ler a minha reação ao álbum após o ter escutado pela primeira vez)

http://primouz.blogspot.com/2008/10/toteking-un-tipo-cualquiera.html

Os discos de Tote caracterizam-se pelo vasto campo temático, indo desde a mensagem interna para a cultura HipHop até aqueles temas universais para jovens e velhos dos 8 aos 80. Seria até compreensível o decréscimo a referências ao movimento já que, normalmente, essa fase dá-se no início da carreira de muitos mc's e de maneira a evitar saturação temática esse aspecto acaba por ser menos abordado. No entanto, saluta-se o activismo de TOTE, concentrando neste disco uma série de recados para o HipHop enquanto estilo musical e cultura. Aqui podemos enquadrar faixas como "Otro opositor opositando", "Hemos llegao", uma espécie "I used to love H.E.R" espanhola em "Loco por ti" e indubitavelmente "La parte más fea de mi curro"

Em outra face do prisma surgem temas mais genéricos e direccionados aos vícios e comportamentos da população, tendo como porta-estandarte, o exuberante " Redes sociales", escolhido como primeiro single do disco.



Há ainda tempo para o clássico egotrip, para o beat pujante do storytelling em "El Paseo" e ainda uma dedicatória muito pessoal em "NBA".

A realçar o facto deste disco, ao contrário dos anteriores, não ter qualquer convidado para além dos beatmakers. Já os produtores podem-se contar cerca de dez, com destaque para o velho companheiro de Tote, Dj Randy. Apesar do risco associado ao convocar 10 produtores diferentes, vindo de um mc tão versátil acaba por não ser estranho nem prejudicar o resultado final porque ao mc cabe a responsabilidade e o desafio de dar coerência à sequência de batidas seleccionadas previamente por ele. Algo a que Tote correspondeu inteiramente.


"El lado oscuro de Ghandi" é um bom registo para quem não conhece TOTE KING passar a interessar-se por esta grande personalidade do HipHop do país vizinho e até para ostracizar algumas reticências que muitos ouvintes portugueses têm com o HipHop espanhol.

Disco que não se consome à primeira, ou seja, com direito a audições repetidas pois em cada uma revela-se um novo detalhe.



EXTRAS

Entrevista NST a Tote King ( Vídeo)

http://www.myspace.com/toteking1

Documentários e filmes sobre Graffiti e Street art.


Desde a adolescência que adoro tudo o que seja relacionado com graffiti portanto, ainda numa época em que o vídeo reinava e o dvd era uma miragem, possuir alguma cassete com documentário, filme, reportagem ou um simples vídeo amador referente a graffiti era uma preciosidade.

Lembro-me em 2000 ou 2001 quando o CDS-PP quis avançar com uma lei "criminosa" no parlamento, a qual provocou muito alarido à volta do fenómeno underground que era o graffiti na altura. Aliás, parece-me ter despoletado um interesse incomum pela vertente e consequente mediatização. E por um lado até foi graças a esta publicidade gratuita que passei a interessar-me verdadeiramente pelo graffiti.

Já riscava cadernos da escola, coloria umas letras com forma esquisita, isto de um modo ingénuo e inocente sem sequer ter um nome para aquilo. E do nada surge uma reportagem especial de 7 a 8 páginas no Jornal de Notícias, que ainda hoje guardo religiosamente, o qual me despertou para realidade do fenómeno.

Voltando ao tema principal, acredito que existam muitos interessados, e tal como eu sejam coleccionadores /devoradores de variadíssimos documentários e filmes acerca do tema. Logo vou aproveitar a oportunidade para listar alguns dos mais interessantes e mediáticos que se encontram espalhados por essa rede.

Desfrutem!

(caso queiram partilhar outros do vosso conhecimento, sintam-se à vontade para partilhar essa informação nos comentários)

Nota: Não listei o documentário de Banksy, nem o Style Wars ou Wildstyle porque parti do princípio que esses já sejam do conhecimento geral.


Bomb it – Um dos mais recentes e premiados documentário sobre graffiti a nível global e a sequela está prestes a chegar.

http://www.youtube.com/watch?v=oi1mo3ngfUs


Bomb the System – Filme acerca das aventuras de dois writers nova-iorquinos contemporâneos.

http://www.youtube.com/watch?v=g1qd5nFWdm4

Against the Wall – Quality of life ( FILME )

http://www.youtube.com/watch?v=59tFIdD3T28

Beautiful Loosers – Belíssimo documentário sobre arte e um grupo de amigos artistas que a tornam possível

http://www.youtube.com/watch?v=JyRAHKTy6hI&feature=player_embedded

RASH – Documentário sobre graffiti e street art na Austrália.

http://www.youtube.com/watch?v=jtlVu-jkx7k


Writers 1983-2003 ans de graffiti à paris – 20 anos de graffiti em Paris

http://www.youtube.com/watch?v=TqKIT3h_QQ8

Just to Get a Rep

http://www.youtube.com/watch?v=tQkmkKjET4U


Infamy
http://www.youtube.com/results?search_query=infamy+graffiti&search=Search

Tats Cru – The Mural Kings – Uma das crews mais respeitadas de NYC
http://www.youtube.com/watch?v=IFVua4Y79ow&mode=related&search


Painting with permission
http://www.youtube.com/watch?v=ktIqA5RTnVY&mode=related&search


Whole train – Filme alemão, o qual ainda não consegui arranjar, até agora, legenda em Inglês sequer.

http://www.youtube.com/watch?v=8JVFpaUsIN0

Day in the Lyfe

http://www.youtube.com/watch?v=io6tfwmQS5I

Alter Ego – A worlwide graffiti documentary

http://www.youtube.com/watch?v=io6tfwmQS5I

Trumac – Documentário sobre uma crew francesa e o seu intercâmbio com writers históricos americanos

http://www.youtube.com/watch?v=lh3dK3hQTOE

Roadsworth – Crossing the Line – Interessantíssimo documentário acerca de um street artist que se vê perante um processo judicial mediático, mas o que fica realmente na mente são as suas magníficas intervenções.

http://www.youtube.com/watch?v=dIifik2THNw

Feliz 2011!



O Bloggers Reign Supreme deseja um fantástico 2011 a todos os leitores!

Word is bond!

Graffiti Jam Session 2010@ Maia [14.11.2010]


Domingo, 14 de Novembro de 2010, testemunhou mais um grande dia para o graffiti nortenho.

Local do "crime", prédio da Maia, sítio emblemático para o graffiti da zona metropolitana do Porto. Um edifício de 4 andares, com a construção suspensa por motivos desconhecidos e que há mais de uma década vem disfarçando a sua deterioração com as obras de, pelo menos, duas gerações de writers.

Uma jam session que veio sendo organizada durante essa semana, de forma acertar uma data mais ou menos consensual, um tema e uma selecção coerente de cores.

Depois de um sábado tempestuoso, um dos maiores receios para esse dia seria o estado do tempo, apesar das paredes-alvo serem abrigadas da intempérie, já se sabe que o bom tempo traz consigo outra motivação para levantar da cama e marcar presença à hora combinada. Conclusão: S.Pedro curte graffiti porque a manhã de Domingo estava surpreendentemente radiosa.

Às 9:30 da manhã, já se viam as primeiras movimentações na Mecca do graffiti maiato. Sacos animados pelo chocalhar de latas começavam a ouvir-se. Tinta de rolo, rolos e escadas alinhavam-se para a primeira ofensiva que consistiu na cobertura de duas paredes a preto.

Rapidamente se passou dessa fase, perante o número de participantes depressa o preto tomou conta da decoração do R/c daquele edíficio.

A temática, combinada durante a semana, seria Fogo Vs Àgua, onde a magia de cada elemento se iria manifestar em duas paredes distintas, uma em tons de vermelho e outra de azul, respectivamente. Convém referir, que a tanto a "Fire Team" como a "Water Team" já se encontravam previamente definidas, de maneira a que os intervenientes trouxessem cores adequadas.

Lá pelas 11h, as equipas já tinham planeado entre si o plano de ataque e daí para a frente de pouco vale comentar porque as imagens falam por si.

Fotografias por : Sarah Miriam, Pedro Queirós e Bruno Mendes.

Mais fotografias em:

Mr.Dheo.com

Pedro Queirós Facebook

Bruno Mendes Picasa

Tribruto - Algazarra

Tribruto
Algazarra
Kimahera (Novembro 2010)


Tribruto (não “tributo”!) é o well known grupo algarvio composto por Kristo, RealPunch e o prolífero DJ/produtor Gijoe.

A primeira coisa que se me apraz dizer sobre este álbum é: FINALLY!

De facto, não me lembro da última vez em que um álbum tuga me cativou logo à primeira audição e não me fartou ao fim da segunda. “Algazarra” é daqueles álbuns que quando se começa a ouvir, fica-se logo estarrecido, tipo puto de cinco anos “uáu, tantas luzinhas!!”, e só depois se começa a perceber a que se deve tal nível de espectacularidade.

Para começar, neste álbum não há por onde começar. Ou seja, não há uma componente que sobressaia mais do que as outras, que chame mais à atenção ou que tenha mais qualidade. Por outro lado, talvez seja isso mesmo que marca a diferença em “Algazarra” – o facto de soar tão coeso, tão bem acabado (tão bem começado?), tão conquistador logo à partida.

É um álbum feito para curtir – mas não pensem já que isso significa que é “mais do mesmo”. Não, é dos poucos álbuns onde os instrumentais contribuem claramente para um elevado nível de curtição nos concertos, na medida em que estã cheios de batidas poderosas, samples inteligentes e scratch como já não ouvia há muito tempo.

E no que se refere às rimas? Cito logo a segunda faixa, com o mesmo nome do álbum: “Faço malhas onde malhas / acerto onde falhas / avanço onde encalhas / arrumo o que enchovalhas”. É mesmo isso – a nível de rimas, Tribruto consegue o que 95% dos álbuns de punchline não conseguem, isto é, consegue ir além da simples punchline trazendo evocações surpreendentes linha a linha. Onde a maioria dos rappers faz uma faixa de egotrip, outra de storytelling, outra de intervenção, Tribruto fazem todas as faixas de tudo. É egotrip E storytelling E punchline E intervenção E skill E flow E mensagem.

É um all you can eat hiphopiano!

“Posso entrar” é das cenas mais hilariantes que se ouviu no rap tuga. A sério. Se conseguirem ouvir esta faixa sem se partirem a rir, há algo de muito errado com vocês. Mad props para o Espectro por ter vindo lá de longe e se ter proposto a fazer uma cena assm! Ó Joe, fala lá com ele, que era fixe que ele voltasse a aparecer no próximo álbum.

“C-ngle”, com um beat daqueles que não deixa margem para dúvidas, está nos píncaros da rima, flow e skill. Contém uma das melhores pestações de RealPunch que já ouvi até hoje. Resumindo: flawless. Nos mesmos aspectos, Kristo sai mais destacado em “Tributo”. Mas estamos aqui a falar de incrementos na prestação marginais, porque na big picture, há poucos colectivos de rap tuga que funcionem tão bem juntos como este.

“Ar Decôr” é um caso raro. Passo a explicar: é das poucas faixas com a participação de Perigo Público em que este não eclipsa completamente os mcs anfitriões. Pelo contrário – estão todos em casa, estão todos ao mesmo nível (elevado!). Aliás, o mesmo torna a acontecer em “Apanhado do clima”, mas com Nerve como convidado. O trio RealPunch, Kristo e Nerve juntam-se para matar o beat de GI Joe numa faixa que consideraria das melhores do álbum, a par com as anteriomente mencionadas.

Para mais awsomeness, consultar “À nossa volta” (com um beat que ofusca), “S.F.U” (where my indies at? Reconhecem a quote inicial?) e “R.U.A.”, com WTR, faixa que tem uma surpresa especial no fim, que me faz rir sempre, mesmo ao fim de mais de dez audições. É a dica de introdução para “Questões”, que pelos vistos é uma especialidade para o convidado de honra, “Reflect”.

Outras músicas com registos um pouco mais diferenciados, como “Money comes to you” e “Cinco dedos, cinco sentidos”, “Dizem-nos muito pouco”, com Nessa e Sacik, “O que me apetece” contribuem para a diversificação da sonoridade de “Algazarra”, provando que GI Joe, Kristo e RealPunch não são rapazes de um só truque.

“Comes e calas” fecha o álbum, no registo característico de Tribruto que nos deixa uma mensagem muito clara: punchline não é para meninos.

Imperdível.

Algumas Reflexões... O Poder do Ouvinte

Há gente que abomina o rap. Alguns simplesmente apreciam um ou outro artista, uma ou outra canção. Há consumidores de música que ingerem o rap da mesma forma com que se alimentam da Pop ou do Rock. No entanto, os adeptos do rap, eles mesmos, não são de forma nenhuma homogéneos na forma de senti-lo. Neste âmbito, pode-se ainda extrapolar as diferentes pontas do rap, desde o underground ao mainstream, do indie ao gangsta, do culto e poético até ao de rua, mais cru.

De entre todas estas variantes, algumas fazem a apologia da violência ou, pelo menos, ela está incluída no rol de assuntos predominantemente tratados. Ora, há quem gostasse e desejasse banir e censurar vincadamente tal temática na música. Até porque o Hip Hop é festa, é promoção de paz, é isso que está inscrito nos seus princípios.

Retrato da sociedade, forma artística ou expoente da liberdade, a música é peça vital, é sangue mesmo, para qualquer pessoa. Ninguém vive sem música. Toda a gente a ouve, independentemente dela ter qualidade ou não. Assim, a música é depositária de tudo quanto possa haver neste mundo. Mas pode ou deve impor-se uma cartilha de assuntos tratáveis na música ou cada um deve ser livre de viver, no fundo, essa liberdade soprada pela própria música?

Discriminação pela cor da pele e pela sexualidade, exploração emocional, violência, manipulação, guerra, violação dos direitos humanos... Há aspectos errados mas arreigados na sociedade que deslaçam a civilização. Tornamo-nos pessoas cada vez mais insensíveis, egocêntricas, egoístas e distantes. Quantas vezes já escutamos, por exemplo, num rap uma calúnia contra as mulheres? Vezes sem conta, infelizmente. Será esta a liberdade que imaginamos quando pretendemos a música sem amarras?

A nossa sociedade valoriza cada vez mais a aparência em desfavor do conteúdo, o materialismo em desprimor do saber, à medida que a universalidade ao invés de fomentar a abertura de mentalidades oprime certos aspectos pelo franzir da intolerância e pelo virar de costas que é o preconceito. Ultrajar contemporaneamente é um modo de vida para muitos. Elevar a arte, qualquer que ela seja, é tarefa apenas de um restrito grupo de iluminados que permanecem firmes na crença de que vale a pena lutar por algo superior, que nos faça sentir perto dos deuses.

Quem liga a MTV, assiste com espanto à apologia do fútil que faz do livro de cheques e do registo de propriedade o termómetro indicado para a medição da sua valia pessoal. O que é um claro contra-senso com uma forma artística como a música. A arte é a desenvoltura do intelecto, não a balança que pesa o volume do que se tem nos bolsos.

Noutro particular, existe também a inveja. É bem mais fácil invejar do que tentar chegar-se a um determinado patamar. Em muitos casos, chafurda-se na abulia, definha-se na negatividade, por não se conseguir ser muitas vezes alquimista e transformar a energia que nasce em nós em algo positivo. É mais fácil odiar do que amar porque o ódio é destruir ao passo que amar é construir. E há o trabalho. Nada se constrói sem trabalho, sem dedicação e persistência. Quando estes elementos se juntam há um mistério no Universo – a que alguns chamam sorte – que congrega esses factores para que eles resultem.

A música tem um estrondoso impacto na consciência colectiva, influenciando-a portanto nas suas convenções quer positivas quer negativas. Daí que seja essencial que os artistas usem o poder que têm responsavelmente. Mas como sabemos que o Pai Natal não existe mas ele entra-nos casa adentro todos os anos, teremos então de ser nós, os ouvintes, os garantes da saúde da música e tratar de fazermos a triagem devida. Nenhum artista vingará se não lhe dermos importância. É uma questão de afirmarmos a nossa escolha e de não estarmos à espera que nos impinjam quem quer que seja.

Deve servir a música para que nos tornemos melhores pessoas. Deve ela inspirar-nos certos valores que norteiem os nossos dias. Concluindo, parte do ouvinte aceitar e legitimar certos tópicos reflectidos na música. O gosto é sempre validado pelo público e a música que temos resulta desse gosto da maioria. Por isso, é que é cada vez mais urgente e importante que sejamos exigentes com o nível musical dos artistas para que advenha daí a qualidade que todos nós pretendemos e que essa se sobreponha à decadência sonora que por aí ondula.

Um MC Competente Inconsciente


Frequentemente, quando nos pedem a opinião sobre um MC que começou a rimar há relativamente pouco tempo, é-nos difícil fazê-lo. Por vezes, os temas são demasiado dejá-vù e as rimas estão mal construídas. Por outras, denota-se um esforço por fazer palavras rimar implícito na maneira como as rimas estão arquitectadas. Em qualquer dos casos, denota-se sempre que há uma grande disparidade entre os MCs mais evoluídos e aqueles que ainda estão a aprender.

Há determinadas fases pelas quais um MC tem de passar se quiser dominar o processo de escrita e conseguir-se expressar da melhor maneira, combinando a forma como escreve com o skill e flow que só vem com o tempo e a aprendizagem. São elas:

Incompetente Inconsciente
O MC tem dificuldade em escrever para um beat, quando grava fica fora de tempo, tem um flow quadrado que nunca varia e nenhum skill. Vai gravando sons que não lhe soam bem, mas não se apercebe porquê nem o que pode fazer para melhorar. Não entende onde é que está o problema. Será o flow? Será a dicção? Será o beat? Ele é incompetente porque não consegue dominar o beat e inconsciente porque não consegue descobrir porquê.

Incompetente Consciente
Nesta fase, o MC começa-se a aperceber de alguns factores chave para que as gravações comecem a soar bem. Apercebe-se que há certas alterações que pode fazer na forma como escreve que lhe dão mais liberdade no flow: já não escreve rimas 4x4. Descobre novas formas de fazer os versos rimar. O processo de descoberta e melhoria faz-se através da emulação de truques que escuta noutros MCs. Reproduzindo-os, desvenda as engrenagens da arte. Ainda que continue incompetente, pois ainda não é capaz de inovar e precisa de recorrer ao que já existe para evoluir, já está consciente dos aspectos em concreto que precisa de melhorar. Sabe onde procurar.

Competente Consciente
À medida que se vai familiarizando com os processos de criação, começa a adquirir as ferramentas para fazer exactamente o que tem em mente. Já não é escravo do pouco que sabe fazer – já é capaz de construir e inovar, fazer coisas que nunca tinha feito antes. Compreende que o beat lhe dá um contexto e pode favorecer determinado tipo de flow, e que esse tipo de flow pode ser explorado da melhor forma com determinado tipo de rima. Mas ainda precisa de fazer um esforço consciente para conjugar todos esses factores, o que leva a que certas músicas soem mecânicas, demasiado tecnicistas e com falta de fluidez. Já sabe como fazer o que quer fazer, pelo que já se tornou competente, mas ainda não ganhou os automatismos necessários à arte de rimar, pelo que ainda se nota um esforço consciente.

Competente Inconsciente
Estes MCs ouvem o beat e, quando escrevem, já têm na cabeça que tipo de rimas querem e como vão colocar o flow. Ainda antes de gravar, a música como um todo já existe dentro da sua cabeça. Conseguem-se focar unicamente na mensagem que querem transmitir, pois a escrita, o flow e o skill já lhes saem automaticamente. Todo o esforço está orientado no sentido da inovação e da criatividade. As rimas soam fluentes, quando os escutamos estamos a ver um filme sem sequer nos apercebermos que as coisas estão todas a rimar e que o flow está milimetricamente colocado. Só somos surpreendidos quando o MC escolhe surpreender, e não porque determinada rima não lhe saiu bem ou porque o flow descarrilou. A sua competência é já inconsciente, é um automatismo que lhe permite a liberdade para o nível seguinte.

Eu diria que poucos são os MCs na tuga que se encontram no estado de Competência Inconsciente. E a maioria deles, nem sequer são muito criativos. O facto de já dominarem todos os aspectos do MCing e portanto terem a liberdade para inovar, não quer dizer que o façam ou sequer que sejam capazes de o fazer. Mas quando os escutamos, sentimos que rimar, para eles, já é tão natural como respirar.

No outro extremo, temos muitos MCs, principalmente da nova escola, que se preocupam muito com a inovação sem antes se dedicarem a aprender a dominar todas as ferramentas necessárias. Perdem demasiado tempo à procura do assunto sobre o qual nenhum MC falou ainda, mas escrevem barras com palavras a mais, saem de tempo, perdem o focus do tema para forçarem a rima ou perdem o focus da rima para forçarem um tema.

Um bom MC pode atravessar estas quatro fases mais depressa ou mais devagar, mas tem de o fazer obrigatoriamente. Repetidamente. A quarta fase não é um estado, é um ciclo, pois assim que MC descobre uma nova limitação, torna a percorrer o ciclo. Nunca acaba.

Um MC medíocre chega à terceira fase e volta à primeira – limita-se a limar algumas arestas antes de cruzar os braços e se declarar o melhor MC do mundo, tornando-se assim inconsciente da sua incompetência.

Um mau MC nunca sai da primeira fase – e é destes que temos às carradas, povoam a maioria das net tapes que por aí circulam com egos do tamanho do mundo e sem qualquer noção das suas limitações.

Mais do que uma forma dos “críticos” analisarem os artistas, eu diria que a verdadeira utilidade deste modelo (muito utilizado em psicologia) é ser uma forma de auto-aprendizagem.

Black Milk - Album of the year



O príncipe de Detroit está de volta com o seu aguardadíssimo terceiro disco. Com um início de carreira auspicioso, cedo foi rotulado como o substituto natural de J-Dilla, isto ainda num período de luto pela estrela maior da cidade e também num de hibernação criativa de todas as outras referências ( Slum Village, Eminem, Royce 5'9, entre outros).

Muito antes de os seus discos a solo seres referenciados, a este já cabia a responsabilidade de produzir para um grupo tão mediático quanto Slum Village, a par do seu colega Fat Ray, o outro membro da dupla B.R.Gunna.

Como ficou subentendido no primeiro parágrafo, o disco de estreia Popular Demand foi o suspiro de alívio para aqueles que não acreditavam numa reformulação tão imediata da Motown.

Entre a estreia e o "difícil segundo álbum" B.M. tornou-se num dos rookies mais desejados do "draft" de produtores, desmultiplicando-se em participações, não só nas batidas como nas rimas.

Se em Popular Demand ainda se falava na proximidade com a sonoridade imposta por Dilla, já Tronic foi mais uma prova de que Black Milk pretendia ser dono e senhor do seu próprio destino, afastando-se do rótulo e do fardo que lhe pretendiam colocar. Tronic, como o próprio nome indica, resulta de influências mais orgânicas e electrónicas, relegando para segundo plano os orelhudos samples soul ou de funk. Nesta altura, Black Milk já demonstrava um grande apreço por baterias expressivas na sua fórmula. Um caminho que tem vindo a explorar imenso, de tal modo que já se tornou numa das suas imagens de marca. Tal como no cinema se fala em "cinema de autor" aqui podemos aplicar a analogia a " produção de autor".

"Album of the year" mais que uma designação pretensiosa para um título de um álbum é, na realidade, o retrato musical do último ano da vida do artista, tal como o mesmo refere logo na abertura. E talvez não seja por acaso que o disco tenha apenas doze faixas. Doze temas que perfazem uma viagem sonora de 55 minutos onde se encontram diluídos acontecimentos relevantes na vida de B.M.

"365" abre as hostes num tom retrospectivo e esclarecedor do verdadeiro intuito do disco. Aqui nomeia alguns factos pessoais marcantes nomeadamente a morte de Baatin, membro fundador dos Slum Village.
"Welcome (Gotta go)" e "Keep Going" seguem a mesma dinâmica inicial, aparentando até alguma anarquia resultante de uma qualquer jam session que pode provocar alguma estranheza inicial, embora comece a fazer sentido após sucessivas audições.


"Oh girl" representa o típico hino ao sexo oposto, que certamente, também deve ter tido um papel bastante significativo durante último ano do produtor/rapper.
"Deadly medley" traz uma troca de punchlines entre intervenientes, provavelmente, o trio mais mediático de Detroit do momento (excepto Eminem), ou seja, Black Milk, Royce e Elzhi, estes dois últimos representando duas eras do HipHop da cidade. Também em "Black& Brown" há troca galhardetes com entre B.M e Danny Brown, uma personagem que tem vindo a fazer um buzz interessante no underground americano através de pequenas participações como esta.


"Round of applause" soa a algo já conhecido no reportório do produtor pois trata-se de um tema muito semelhantes ao single de Tronic, "Give the drummer sum". Aliás esse single enquadrar-se-ia perfeitamente no alinhamento deste disco.

Na combinação de dois aspectos essenciais: escrita e produção. Album of the year é a colheita de mais apurada de Black Milk e onde este binómio melhor se conjuga.


A produção, tal como foi dito, é o aspecto mais destacável porque marca definitivamente um estilo próprio, um carimbo sonoro que nos permite (já) identificar o seu "toque" tão naturalmente como identificamos uma batida de Premier, Dre ou Timbaland. (reparem que no final de cada faixa a duração desta prolonga-se mais que o habitual até acabar em definitivo, quase como se o autor quisesse um parte inicial rimada e uma final só instrumental)

Já no que toca às rimas, o discurso está mais assertivo e confiante. O flow está mais perpicaz e maleável, com uma maior preocupação na dicção devido às rimas internas, agora mais exploradas.


Quanto ao conteúdo, é pena Black cair na redundância do egotrip e da rima livre onde o ouvinte se acaba por perder a meio e se deixa levar apenas pelo apelo da batida.
Embora não seja surpresa nenhuma, um produtor/ mc se destacar em apenas um dos campos, pois encontrar um excelente produtor e mc é tão provável como encontrar um excelente futebolista ambidestro.

"Album of the year" certamente que não será o disco do ano, apesar de ir constar na lista de nomeados. Mas, ficou patente que Black Milk é um dos produtores mais prolíferos e vanguardistas do HipHop contemporâneo.

Nota: na review foi considerado Popular Demand como disco de estreia de Black Milk, apesar de algumas fontas considerarem que esse tenha sido já o seu segundo disco oficial.

Myspace: Black Milk