Conformidade - Parte 1

Hoje gostava de falar sobre um tema que talvez pareça estranho mas que considero de soberba importância – conformidade. Já acompanho o movimento há algum tempo, pelo menos o suficiente para detectar alguns padrões e comecei a perceber que quando um novo hiphoppa entra no movimento, passa invariavelmente por 5 fases. Vejamos quais são.



1) Entusiasmo – Tudo é novo e espantoso. O noob descobre que há rap um bocado diferente daquele que passa na televisão. Dependendo do gosto, o noob mergulha no mundo do rap indiscriminadamente, ouve tudo, gosta de umas coisas, não gosta de outras, mas tudo é espectacular, desde Lil Wayne a Buraka Som Sistema, desde Notorious BIG até 50 cent. Não existe nenhuma fronteira definida daquilo que é rap ou deixa de ser. Tudo é válido.

2) Massacre Total – Começa-se a aperceber que afinal, o rap não está todo ao mesmo nível. Há sub-géneros dentro do rap e há que escolher em que crew se quer estar. Se curte gangsta rap, não ouve indie. Se curte bounce, não ouve rap de intervenção. Se ouve rap de intervenção, não ouve mais estilo de música nenhum. O pessoal do movimento percebe tanto de rap que é impossível abrir a boca sem dizer algo de incrivelmente estúpido ou ser imediatamente dizimado. Surge a hora de estar caladinho e ir fazer o trabalho de casa. Ouvir uns quantos clássicos, decorar o nome de algumas editoras, saber o nome de produtores e DJs importantes de quem nunca tinha ouvido falar. Perceber qualquer coisa das outras vertentes é um bónus.



3)  Defensor da Verdade – O noob já não é noob. Agora é um verdadeiro hiphoppa. Já ouviu o que tinha a ouvir, escolheu a sua afiliação, decorou todos os nomes de todos os artistas e labels que se incluem nesse estilo de rap e dedica-se agora a carregar a bandeira da Realness aos ombros. É ele que dizima noobs que ouçam rap mainstream/para o club/nerd/emo/hipster/wareva. Hiphoppa totalmente respeitado pelos seus pares pelo conhecimento que adquiriu. Já sabe de que artistas pode gostar ou não e já consegue participar em discussões fundamentais, tais como Just Blaze versus Green Lantern, Premier versus Solar (se estás a ler isto e não sabes quem sai vencedor desta, ainda estás na fase 1) ou 9th Wonder versus Alchemist.

4) Revelação – Ups. Parece que afinal, depois de tudo isto, ainda há certos artistas de que não era suposto gostar e afinal gosta. Um fiel adepto da Babygrande que ouve The Cool Kids às escondidas. Um fervoroso adepto da Rhymesayers que não passa sem Ill Bill. Um soldado da G-Unit que ouve Immortal Technique. Começa a pensar que, se calhar, todas estas regras daquilo que é o verdadeiro hiphop não são tão lineares como parecia à primeira vista.



5) A confiança da experiência – Já sabe praticamente tudo o que há para saber. Punchline, indie, minimalista, gangsta, egotrip; até já quase distingue o analógico do digital só de ouvido. E também se apercebe que o hiphp é uma cultura cheia de diversidade que tem as suas raízes em estilos de música pré-existentes como talvez nenhum outro estilo tenha. E isso quer dizer que é um estilo em constante evolução – não faz mal ter novos gostos, não faz mal gostar de música pela música. É neste momento que há a confiança para dizer, hey estes OFWGKTA são do caraças. Ou então, a nova música do Dre com o Eminem está tão gay.

Worry not, caro leitor, eu tenho um objectivo com esta conversa.

Mas vai ficar para o post 2, que este já vai longo e eu sei que vocês não gostam de posts muito grandes. :)

8 comentários:

DarkSunn disse...

kekekeke

J-K disse...

"hey estes OFWGKTA são do caraças. Ou então, a nova música do Dre com o Eminem está tão gay".

Grande frase!!!

Adorei o post.

Nicolau disse...

Glad you liked my brovas!

Swag!

Progresso disse...

AHAHA Nico ... boa análise! Parte II s.f.f.

Sempei disse...

Tão verdade!

Nicolau disse...

Parte II coming soon!

Anónimo disse...

dp de ler isto, ha uma cena q nao resisto em dizer: o rap é a cena mais versatil de sempre! mtas vezes ouço povo q diz "ah, eu curto mais indie", outro "a minha onda é mais rap da velha escola" eu nao me decido! é uma cena q por vezes ate m irrita lol nao m consigo inclinar para nenhum sub-genero, tanto bato mal com um "lucy ford", como aclamo jedi mind tricks, ou salto da cadeira ao som do 3 feet high and rising! achei o texto muito bom, o titulo chamou mt a atençao, pq acho q a conformidade é um dos piores inimigos: acho q um gajo deve preocupar-se sempre em tentar conheçer e alargar gostos, mas nao pela cena "ah e tal quero saber disto a potes a dar uma de sabichao da coisa" mas sim para nos apercebermos do quao vasto é o rap, e d quanta boa musica anda por aí e q nós nem sonhamos q existe!

este post ja vai lonogo, por isso maia uma vez, parabens pelo texto e continuaçao deste enorme blog!!

hasta

Nicolau disse...

Obrigada a ti pelo comment! De facto o rap é muito vasto e não somos obrigados a cingir-nos a um estilo. Ter preferências sim, mas ter restriçoes nao! :)

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