Fenómenos

Quando pensamos em fenómenos vem-nos instantaneamente à baila na cabeça o Entroncamento e o futebolista brasileiro Ronaldo, que hoje até carrega mais a alcunha de gordo do que qualquer outra coisa. No entanto, há mais fenómenos para admirar. Particularmente no rap português. É o caso de Deau e de Bónus.

Ambos não têm álbuns ou mixtapes editadas em nome próprio. Só têm participações em compilações ou em álbuns alheios. Todavia, têm uma enorme e entusiasta trupe de admiradores por todo o país, o que é assinalável para quem nunca experimentou a edição de um trabalho individual. Há factores parecidos na vida artística de ambos, pontos de ligação, que certamente contribuíram para esta aura mística que envolve os dois rappers.

Na verdade, com tão pouco trabalho feito, já têm um vasto reconhecimento. Mas o que contribuiu então para isso, sendo eles rappers que estão, por exemplo, nos antípodas de NGA, que é um incansável trabalhador de raps? Claro que a aclamação de que gozam deriva do imenso talento que desde logo revelaram. Não podia ser de outra forma. A grande capacidade lírica deles capta-nos à primeira audição. Depois cria-se uma enorme expectativa sobre o que serão capazes de fazer a seguir, aguardando-se sempre uma surpresa brutal, capaz de nos deixar novamente rendidos às suas imensas qualidades.

Deau é mestre no freestyle. Bónus é mestre em captar o sentimento da ruas. Deau traz garra para o palco. Bónus traz mentalização nas rimas. Deau irradia espontaneidade e transpira emocionalidade pela pele. Bónus é um pensador social, um repórter dos bairros, de escrita refinada. Diferentes no estilo, com origens díspares, mas iguais no talento. Inteligentes, com flows atraentes e mensagens entusiasmantes, ambos já marcaram o rap português, mas prometem-lhe ainda muito.

Curiosamente, Deau e Bónus não se preocupam muito com a sua imagem e com a exposição do seu trabalho, o que é um facto interessante. Talvez isso até ajude a explicar a avidez, a permanente vontade, em saber deles, pois não nos desgasta a sua imagem e só nos aumenta a curiosidade em contemplá-la. Poderá ser uma estratégia ou não, mas é certo que ajuda a dar-lhes essa certa mística à qual atrás me referia. Numa era da internet e de exaustiva divulgação de trabalhos por tudo o quanto é redes sociais, Deau não tem Myspace e Bónus abandonou o seu faz muito tempo. Isto é elucidativo de que nunca precisaram disso para se darem a conhecer. Bastou-lhes umas meras colaborações para que o génio de ambos ficasse bem gravado na memória de quem os escutava.

Serão eles capazes de revolucionar o rap português quando aumentarem o currículo? Só o tempo o dirá. O que apraz mencionar é que se ambos continuarem a dedicar-se ao Hip Hop, todos ganharemos, devido às potencialidades que demonstram e por tudo aquilo que já representam. Sabe-se que ambos pretendiam lançar álbuns individualmente. Oxalá venham o mais depressa possível para as ruas e que vitaminem o Hip Hop português, fazendo dele um movimento cada vez mais fenomenal.


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