Feliz 2011!
O Bloggers Reign Supreme deseja um fantástico 2011 a todos os leitores!
Word is bond!
Graffiti Jam Session 2010@ Maia [14.11.2010]
Local do "crime", prédio da Maia, sítio emblemático para o graffiti da zona metropolitana do Porto. Um edifício de 4 andares, com a construção suspensa por motivos desconhecidos e que há mais de uma década vem disfarçando a sua deterioração com as obras de, pelo menos, duas gerações de writers.
Depois de um sábado tempestuoso, um dos maiores receios para esse dia seria o estado do tempo, apesar das paredes-alvo serem abrigadas da intempérie, já se sabe que o bom tempo traz consigo outra motivação para levantar da cama e marcar presença à hora combinada. Conclusão: S.Pedro curte graffiti porque a manhã de Domingo estava surpreendentemente radiosa.
Às 9:30 da manhã, já se viam as primeiras movimentações na Mecca do graffiti maiato. Sacos animados pelo chocalhar de latas começavam a ouvir-se. Tinta de rolo, rolos e escadas alinhavam-se para a primeira ofensiva que consistiu na cobertura de duas paredes a preto.
Rapidamente se passou dessa fase, perante o número de participantes depressa o preto tomou conta da decoração do R/c daquele edíficio.
Fotografias por : Sarah Miriam, Pedro Queirós e Bruno Mendes.
Mais fotografias em:
Tribruto - Algazarra
Algumas Reflexões... O Poder do Ouvinte
Um MC Competente Inconsciente
Black Milk - Album of the year
O príncipe de Detroit está de volta com o seu aguardadíssimo terceiro disco. Com um início de carreira auspicioso, cedo foi rotulado como o substituto natural de J-Dilla, isto ainda num período de luto pela estrela maior da cidade e também num de hibernação criativa de todas as outras referências ( Slum Village, Eminem, Royce 5'9, entre outros).
Muito antes de os seus discos a solo seres referenciados, a este já cabia a responsabilidade de produzir para um grupo tão mediático quanto Slum Village, a par do seu colega Fat Ray, o outro membro da dupla B.R.Gunna.
Como ficou subentendido no primeiro parágrafo, o disco de estreia Popular Demand foi o suspiro de alívio para aqueles que não acreditavam numa reformulação tão imediata da Motown.
Entre a estreia e o "difícil segundo álbum" B.M. tornou-se num dos rookies mais desejados do "draft" de produtores, desmultiplicando-se em participações, não só nas batidas como nas rimas.
Se em Popular Demand ainda se falava na proximidade com a sonoridade imposta por Dilla, já Tronic foi mais uma prova de que Black Milk pretendia ser dono e senhor do seu próprio destino, afastando-se do rótulo e do fardo que lhe pretendiam colocar. Tronic, como o próprio nome indica, resulta de influências mais orgânicas e electrónicas, relegando para segundo plano os orelhudos samples soul ou de funk. Nesta altura, Black Milk já demonstrava um grande apreço por baterias expressivas na sua fórmula. Um caminho que tem vindo a explorar imenso, de tal modo que já se tornou numa das suas imagens de marca. Tal como no cinema se fala em "cinema de autor" aqui podemos aplicar a analogia a " produção de autor".
"Album of the year" mais que uma designação pretensiosa para um título de um álbum é, na realidade, o retrato musical do último ano da vida do artista, tal como o mesmo refere logo na abertura. E talvez não seja por acaso que o disco tenha apenas doze faixas. Doze temas que perfazem uma viagem sonora de 55 minutos onde se encontram diluídos acontecimentos relevantes na vida de B.M.
"365" abre as hostes num tom retrospectivo e esclarecedor do verdadeiro intuito do disco. Aqui nomeia alguns factos pessoais marcantes nomeadamente a morte de Baatin, membro fundador dos Slum Village.
"Welcome (Gotta go)" e "Keep Going" seguem a mesma dinâmica inicial, aparentando até alguma anarquia resultante de uma qualquer jam session que pode provocar alguma estranheza inicial, embora comece a fazer sentido após sucessivas audições.
"Oh girl" representa o típico hino ao sexo oposto, que certamente, também deve ter tido um papel bastante significativo durante último ano do produtor/rapper.
"Deadly medley" traz uma troca de punchlines entre intervenientes, provavelmente, o trio mais mediático de Detroit do momento (excepto Eminem), ou seja, Black Milk, Royce e Elzhi, estes dois últimos representando duas eras do HipHop da cidade. Também em "Black& Brown" há troca galhardetes com entre B.M e Danny Brown, uma personagem que tem vindo a fazer um buzz interessante no underground americano através de pequenas participações como esta.
"Round of applause" soa a algo já conhecido no reportório do produtor pois trata-se de um tema muito semelhantes ao single de Tronic, "Give the drummer sum". Aliás esse single enquadrar-se-ia perfeitamente no alinhamento deste disco.
Na combinação de dois aspectos essenciais: escrita e produção. Album of the year é a colheita de mais apurada de Black Milk e onde este binómio melhor se conjuga.
A produção, tal como foi dito, é o aspecto mais destacável porque marca definitivamente um estilo próprio, um carimbo sonoro que nos permite (já) identificar o seu "toque" tão naturalmente como identificamos uma batida de Premier, Dre ou Timbaland. (reparem que no final de cada faixa a duração desta prolonga-se mais que o habitual até acabar em definitivo, quase como se o autor quisesse um parte inicial rimada e uma final só instrumental)
Já no que toca às rimas, o discurso está mais assertivo e confiante. O flow está mais perpicaz e maleável, com uma maior preocupação na dicção devido às rimas internas, agora mais exploradas.
Quanto ao conteúdo, é pena Black cair na redundância do egotrip e da rima livre onde o ouvinte se acaba por perder a meio e se deixa levar apenas pelo apelo da batida.
Embora não seja surpresa nenhuma, um produtor/ mc se destacar em apenas um dos campos, pois encontrar um excelente produtor e mc é tão provável como encontrar um excelente futebolista ambidestro.
"Album of the year" certamente que não será o disco do ano, apesar de ir constar na lista de nomeados. Mas, ficou patente que Black Milk é um dos produtores mais prolíferos e vanguardistas do HipHop contemporâneo.
Nota: na review foi considerado Popular Demand como disco de estreia de Black Milk, apesar de algumas fontas considerarem que esse tenha sido já o seu segundo disco oficial.
RIP Eyedea
A crew BRS manda respeito para o eterno ícone indie Eyedea.
Foi sem dúvida um dos artistas que mais influenciou a cena indie. RIP Eyedea.
Reportagem: Body Rock Crew, Mau Feitio, Mundo, Termanology e AZ no Hard Club (08/10/2010)
O Hard Club, no Porto, engalanou-se arquitectónica e humanamente para acolher Body Rock Crew (Maze, D-One e Deck97), Mau Feitio, Mundo Segundo, Termanology e AZ. O interesse estava no auge para se perceber se o público respondia ao convite de agraciar os artistas nacionais e os americanos com uma recepção que se queria bem quente. Se o NGA é mais quente que o fogo, o Hard Club esteve ainda mais quente que o NGA então. Verdadeiro vulcão de emoções que se viveu naquele espaço, com o público a corresponder em número ao nível vibrante do cartaz em questão: 8.9 na escala de Richter.
As pessoas foram sentindo o faiscar da festa com Body Rock Crew, que enviou autênticas guloseimas para audição sem se importar que os presentes se empanturrassem naqueles sabores clássicos, quando ainda tinham um banquete para degustar. Foi mesmo assim. Os concertos foram uma mesa cheia que o palato de todos provou e aprovou. Mau Feitio foram a entrada calórica quanto baste, distribuída pelas doces batidas de D-One e as rimas de Capicua e de Auge. "Apetece" pareceu ter tido a maior aceitação de todo o cardápio por eles servido. Destaque para as participações especiais de Cooper, Deau (que saiu da plateia) e de M7 na actuação de Mau Feitio, que vieram conferir ainda mais riqueza à prestação do grupo. Este esteve em bom plano, conforme nos vem habituando e foi a entrada perfeita para o primeiro rap que se escutou ao vivo na noite.
Depois seguiu-se Mundo Segundo acompanhado por DJ Guze e Each de Enigma Crew. O MC de Dealema foi feliz na escolha do alinhamento para uma noite tão especial, interpretando alguns dos temas mais marcantes do seu trajecto a solo para loucura dos presentes. Contou ainda com o préstimo de Maze, seu comparsa dealemático, e de Ana, a jovem cantora que adocicou o refrão do clássico "O Que É Feito?". Os braços no ar foram uma constante e os gritos de satisfação idem aspas. De referir que Mundo Segundo foi o rei da noite. Ainda antes de os americanos actuarem (devem-se ter pasmado com a idolatração por Mundo), o público atingiu o ponto máximo de ebulição com o rapper tripeiro, que teve uma performance muito boa e galvanizadora.
O primeiro americano a entregar-se à assistência do Hard Club foi Termanology. O rapper teve uma excelente entrega, pautada por muita energia, entusiasmo e comunicação com o público. Logo aí marcou pontos. "Real Hip Hop is here", disse Termanology. Saíram pelas colunas da sala alguns temas clássicos da sua carreira como “How We Rock” ou “So Amazing”, respondendo os presentes com alegria ao que iam vendo e ouvindo. E não era para menos. É que perante toda a plateia ia-se exibindo não só as rimas de um dos mais entusiasmantes emcees da nova escola norte-americana, como também alguns beats de autoria de DJ Premier, que dispensa qualquer tipo de apresentação. Contudo, por muito que a gente idealizasse Preemo por detrás da mesa dos pratos, a verdade é que o DJ que realmente acompanhou Termanology fazia questão de vincar a sua presença com uns irritantes disparos sonoros que cessavam cada som.
Durante a actuação notou-se perfeitamente o prazer de Termanology devido ao carinho que lhe foi sendo dispensado. Ele que há tempos, em Vigo, actuou perante uma sala (quase) vazia, no Hard Club deve ter ficado bem impressionado com a atmosfera intensa e vibrante com a qual foi confrontado. Para êxtase dos portugueses, "Watch How It Go Down" foi naturalmente a malha que fez explodir a sala antes da despedida do emcee do palco. Muito boa actuação de Termanology. We love you too, m*therfucker!
Por último, actuou o originário de Brooklyn AZ. Era alta a expectativa sobre esta lenda do rap norte-americano. AZ não teve o fulgor de Termanology mas mesmo assim foi fantástico assistir ao vivo à prestação do mítico rapper. Pelo adiantado da hora e cansaço do público (?), havia algumas clareiras entre a assistência durante o concerto de AZ, mas foi aqui que eclodiu um moche que deixou Termanology (assistindo ao show no palco) impressionado com aquela situação e foi prontamente filmá-la. AZ percorreu a sua vasta discografia, fazendo girar alguns clássicos, particularmente do seu álbum de estreia “Doe or Die”, que foram muito bem acolhidos. Houve tempo também para “Life’s a Bitch”, uma das melhores canções de todos os tempos do rap mundial, que sentida ao vivo emocionou toda a gente. AZ não tendo exibido a garra de Terma deu no entanto um bom concerto. Pena que o público tenha começado a debandar e nem sempre tenha “feito o barulho” que AZ talvez esperasse. A espaços, AZ presenteou os presentes com sons clássicos do Hip Hop internacional, não se coibindo de homenagear, por exemplo, Guru. Apesar da prestação um pouco abaixo da de Termanology, foi mágico presenciar o show de uma lenda viva do rap mundial.
Em resumo, a noite do Hard Club foi muito boa. Registaram-se belas actuações e um grande apoio do público do Hip Hop, que compareceu em peso na casa. Foi importante que os artistas americanos tivessem sentido que o Hip Hop está forte aqui e que é feito com entusiasmo e com a presença em massa de pessoas nos concertos. Tudo isto é vital para que se mantenha a esperança de que seja possível trazer mais rappers americanos a Portugal e que eles estejam interessados em passar por cá. AZ e Termanology terão saído satisfeitos com o afecto do público mas talvez se tenham admirado por Mundo ter sido mais aplaudido do que eles. Mundo foi aquele que fez a multidão agitar-se mais. Espectacular noite! Que se repitam muitas mais assim no Hard Club.
Reportagem: Urban Beat Battle, Gare Clube, Porto (07/10/2010)
Os dezasseis concorrentes na batalha de beats tinham de convencer o público de que eram os melhores para passarem as eliminatórias, já que era esse mesmo público que com o seu grito decidia quem seguia para a ronda seguinte. O método de votação era simples, embora todos possamos questionar a sua fiabilidade em eleger realmente os melhores. No entanto, eram as regras e todos sabiam para o que iam.
Algumas eliminatórias foram memoráveis e quase todas elas envolveram... Cálculo. Ao longo da caminhada triunfal do barcelense, tanto caíram beatmakers com pouca projecção no panorama nacional - como BeatOven -, como também tombaram artistas com bastante peso na arte de reproduzir beats, nomeadamente LT a.k.a. Philly Gonzalez (que começou por vencer Jowdjo, de Aveiro). Tal como o produtor de Matosinhos, também D-One surgiu no Gare Clube bem posicionado na tabela de apostas para esta Urban Beat Battle. D-One actuou em casa, mas até na China lhe reconheceriam grande valor na hora de bater com os dedos nos pads. Que o diga Alpha e Supremo G. O primeiro, do colectivo Recarga, por ter sido abatido logo na ronda inaugural, e o segundo por não ter pejo em “comprar” logo ali o primeiro instrumental rodado por D-One. A participação deste findou aos pés (leia-se beats) de Cuss, que disparou para a semi-final após um duelo estrondoso (que pareceu uma final antecipada, pode-se dizer assim). Amparado pelo autocarro humano proveniente da Póvoa de Varzim, e pelo seu inegável talento para as batidas, Cuss galgou dois opositores até confrontar-se com Cálculo. A gladiação instrumental entre os dois foi estupenda, com ambos a exibirem-se num patamar realmente elevado.
De sublinhar a juventude de alguns participantes (como a de LiL’P. Beatz, de apenas 16 anos), que contrastou com o nível de maturação demonstrado nos beats. Da capital para a Invicta, M.A.N. granjeou chegar à final exibindo um estilo muito singular nas batidas. Na meia-final, o adversário deste, Cooper, revelou-se mais artilhado do que qualquer outro participante. Isto porque à passagem de uma batida de sua autoria, esta incluía igualmente uma a capella, algo obviamente descontextualizado numa competição de... instrumentais. Foi graças à generosidade de M.A.N. que Copper teve oportunidade de se redimir com um último beat, mas o talento do moçambicano radicado em Lisboa já tinha reservado o último bilhete para a final.
O derradeiro duelo também foi muito bom, com Cálculo a suplantar M.A.N. no ruído proveniente da plateia. De realçar o carácter requintado dos samples do representante da terra do “pé na porta”, que conquistou a maioria dos presentes, mesmo aqueles que estavam pouco familiarizados com as suas produções. Não menosprezando nenhum concorrente, já que todos eram verdadeiramente hábeis na arte de bulir nas MPC’s (ou MPD’s, etc...), salientamos ainda as participações de Alpha, Mekie e Noyse.
Relativamente ao sistema de votação, apenas se pode especular em duas situações, curiosamente envolvendo Cooper. Numa eliminatória entre o representante de Gaia e Mekie, o segundo pareceu ser mais convincente na qualidade das batidas, mas o ruído foi superior para Cooper. Depois entre Noyse e Cooper quando se previa que ambos teriam que rolar mais um instrumental para um desempate, Cooper ganha surpreendentemente quando parecia até que a audiência se manifestou mais por Noyse. Mas podia ter sido perfeitamente uma ilusão... auditiva.
Cálculo tornou-se assim o primeiro vencedor deste evento, tendo o atractivo de ceder um instrumental para Valete compor um tema. Valete, que tal como Maze, esteve presente no Gare Clube, ainda que nem sequer tenha subido ao palco ou proferido qualquer palavra. Os finalistas (Cálculo e M.A.N.) levaram ainda prémios para casa, numa oferta da Plastic Sounds.
Antes da competição e intervalando as diferentes fases da mesma, houve tempo para se escutar DJ Player (o cicerone principal de toda a noite), Supremo G, JêPê, Rusty, Contrabando88 e ainda uma jam session de Poeta de Rua. Com maior ou menor entusiasmo, a plateia aderiu bem ao esforço e talento dos artistas que animaram a festa. Supremo G e JêPê percorreram algumas faixas de "Live On Stage" e de "A Caminho da Lua", o próximo trabalho de Jimmy P. Como sempre, onde quer que actue Contrabando88, a tropa de apoiantes não os deixou sozinhos e fez com que se sentissem em casa.
Palavras finais para a organização do evento que trabalhou muito para que tudo corresse da forma mais perfeita possível. Reis e Fisko merecem a nossa congratulação pela iniciativa, pelo empreendedorismo de fazerem em Portugal um evento primeiro com estas características e depois com esta qualidade. Parabéns a todos os concorrentes, ao público que compareceu e aos artistas que actuaram. Da parte do BRS, enviamos um abraço muito especial ao Fisko que nos tratou de forma impecável. Foi uma honra o BRS estar associado a este evento. Parabéns Hip Hop português!
B-Girl - Review do filme (COM SPOILERS)
B-Girl é um filme cujo título é bastante auto-evidente. Podem encontrar todas as informações do mesmo aqui: http://www.bgirlmovie.com/
Este é um filme com muitas coisas para dizer. E isso é bom - quer dizer que os aspectos positivos são suficientes para que o filme valha de facto a pena ver.
Para quem não viu o filme atenção - esta review tem spoilers.
A história do filme, genericamente, pode-se resumir da seguinte forma: Angel, uma B-Girl, é atacada pelo ex-namorado psicótico, que a esfaqueia nas costas, e tem de fugir de Brooklyn para LA, onde recomeça toda a sua vida de B-Girl enquanto ultrapassa o trauma e a limitação física. Inclusivamente após o ataque covarde, o próprio medico afirmou que, caso Angel não tivesse a preparação atlética de b-girl, as consequências do ataque teriam sido mais severas.
Este filme consegue estar no limiar do aceitável, na medida em que os pontos positivos são suficientes para compensar os aspectos mais negativos. Mas ainda assim, vale a pena fazer uma análise detalhada, para que eventuais projectos futuros possam colmatar as falhas que se verificaram neste trabalho e possam inspirar-se naquilo que correu bem.
Começando pelos aspectos positivos:
1. Tempo de antena para o breakdance - Sem grande ângulos de câmara que poderiam dar mais sensação de movimento, mas que também nos tiravam a sensação de estarmos a assistir a uma battle ao vivo. O momento alto do filme, em que as crews que chegam à final se confrontam, nesse aspecto está soberba.
2. A B-Girl - não se limita a fazer poppin and lockin. Ela breaka a sério! Não se veste de cor de rosa, não treina de maiot e colans, não usa perneiras, não ouve RnB. That’a’girl.
3. O segundo personagem principal também não está mal de todo. Não é um dread dos subúrbios que anda na droga por peer pressure e que lá no fundo até é boa pessoa. Não, é um professor numa escola, mas que não é por isso que deixa de ser real e de manter o gosto pelo breakdance.
4. Na abertura da battle, a B-girl faz uma espécie de acapella sobre ser B-girl que deve ter sido escrito por alguém com muito jeito para poemas - é das melhores partes do filme em termos de guião.
5. A banda sonora - Está bastante fixe, sem autotunes nem nada disso.
Agora os aspectos negativos que, valha-nos deus, são mesmo maus.
Toda a história parece uma desculpa mal engendrada para pôr uns gajos a breakar com uma gaja, que pode não se vestir de cor de rosa e com calças justas, mas tem um street name bué de meter respeito (“Angel”) e bué diferente do seu nome verdadeiro (“Angela”).
Aquilo a que chamamos em inglês “plot devices” (como chamamos em português?) são mesmo, mesmo, mesmo maus, óbvios, forçados e previsíveis. Coisas como:
- Angel está numa festa com a sua melhor amiga que é latina e o seu ex-namorado vem dizer “ah e tal vamos voltar” ao que ela responde “não! está acabado!”. Angela e a amiga vão para a casa de banho e trocam de chapéu e de casaco porque Angela tem medo do namorado (embora não se perceba porquê). Saem juntas do clube, pela porta das traseiras. Angela é loira, caucasiana e veste-se de roupa larga, a amiga tem cabelo preto, é latina e veste-se de salto alto e roupa justa. O ex-namorado, que estava à espera delas cá fora, deve ser completamente cego porque apesar da diferença evidente na maneira como se vestem, precisou de agarrar e esfaquear a amiga de Angela na barriga, mesmo com ela a gritar e tudo (nem pela voz lá foi!) antes de perceber que não era Angela. Ao aperceber-se do erro, que faz ele? Não, não mata Angela, a pessoa que ele queria de facto matar. Dá-lhe um cortezinho no ombro, fica muito perturbado, e vai-se embora.
- Angela muda de cidade porque tem medo que o ex-namorado a volte a atacar, apesar de bastar trocar de chapéu e casaco de vez em quando para o ex deixe de a reconhecer.
- Na nova cidade, Angela descobre rapidamente uma nova crew. No primeiro encontro, uma das gajas que para lá estava (afro-americana), que nem sequer é b-girl, levanta-se e dá-lhe um granda empurrão, completamente do nada. Cria-se uma rivalidade estúpida, que é resolvida rapidamente e de modo igualmente estúpido. Do nada, a gaja passa a adorar a Angel e convence os outros gajos a deixa-la entrar na crew.
- No meio do filme, de repente Angela está traumatizada e culpabiliza-se pela morte da amiga. Mas só durante o minuto e meio em que tem um pesadelo, que depois vai dar jeito para conhecer o professor, que é o gajo que anda a treinar a crew a que ela se junta. De resto, Angela anda fresca que nem uma alface.
- Igualmente do nada, a mãe de Angela começa a beber e é alcoólica. Mas também é alcoólica por cerca de 30 minutos, pois assim que vai chatear o professor-bboy por andar a levar a filha pelos maus caminhos do breakdance que a levaram a ser esfaqueada, passa-lhe logo tudo e fica outra vez uma pessoa normal.
- O evento final é apresentado pelo host como “um evento com crews dos vários cantos do mundo”, quando na realidade só se vê uma battle de todo o torneio, ou seria já a final? Pois é, no filme isso não fica claro. A battle é bem interessante por sinal mas o torneio poderia ser explorado de uma forma mais coerente.
De facto, é uma pena que o filme tenha sentido a necessidade de se socorrer de tanto cliché a nível de história e plot devices para conseguir mostrar qualquer coisa de breakdance. No entanto, não deixa de ser um filme com um bom clímax - a B-boy battle.
Por: A. Silva e Joana Nicolau
Reportagem: Roulote Rockers no Hard Club (1/10/2010)
Austeridade
Arte, Estética & Crítica
Fenómenos
Portugalidade... numa perspectiva HipHopiana
Style Wars 2.0
Não. Style Wars não irá ter uma sequela nem um dos tão famosos remakes. No entanto, este texto explica-se através de duas razões:
- Trata-se sim do reaproveitamento ou reciclagem de um texto acerca do mesmo tema, o qual fiz à 4 anos atrás
- Surge também do facto de no início deste mês se ter realizado uma acção de beneficência para ser possível restaurar/conservar a película original e as muitas horas de filmagem não incluída neste lendário documentário.
Style Wars, foi um nome que sempre esteve presente no pensamento desde o meu primeiro interesse pelo graffiti. Recordo-me bem de ter lido uma entrevista ao lendário SEEN (na extinta e velhinha Subworld ( ver abaixo)) e a referência a este como um dos melhores writers da altura (King of the Kings).E eu, na minha inocência, continuava a questionar-me o que seria o tal Style Wars.
Mais tarde apercebi-me de que se tratava de um documentário acerca de graffiti e "algo mais" e depois de visioná-lo fiquei deliciado com o que vi. Está realmente fantástico pois contrapõem perspectivas dos writers, dirigentes autárquicos, polícia, críticos de arte, jornalistas, simples transeuntes, utentes do metro de NY e até uma mãe de um writer. E daqui surge o conceito ”Style Wars”. Da antítese de opiniões entre os writers e uma Nova Iorque inteira e da competição interna entre eles, num jogo de afirmação pessoal perante os seus pares. Portanto estávamos perante duas guerras de estilos: estética e de vida.
O graffiti surge devidamente enquadrado na cultura HipHop, do qual são apresentadas as 4 vertentes com especial realce para o B-Boying, com filmagens da competição promovida entre RockSteady Crew e Dynamic Rockers. O djiing e mciing são apresentados quase como um só e o graffiti, era sem dúvida alguma, a “ovelha negra da família”, isto é, o mais controverso.
Tudo começa na década de 70, em Nova Iorque, por Taki 183 que inscrevia nas paredes o seu tag, ( nº era correspondente ao nº da sua porta), acabando com este a ser conhecido por toda a cidade. A moda pegou e a partir daí foi um festival de tagging, surgindo outros nomes como Papo 184, Junior161, Cay161, Stitch 1, e duas raparigas Barbara62 e Eya62. A partir daí os anos 70 ficam notabilizados como a década dos pioneiros e de desenvolvimento de estilos.
Uma nota especial, Taki 183,cronologicamente,não foi primeiro mas sim aquele que alcançou maior notoriedade tal como o documentário relata.
Somos confrontados com diferentes perspectivas de vários writers com destaque para Skeme, Seen, Dondi, Case2, Dez (actual Dj Kay Slay) e o odiado CAP.
É captada a preocupação de uma mãe e a sua oposição às actividades do filho (Skeme), mas não é por isto que este deixa de o fazer, sendo sincero com a sua mãe, não omitindo o seu estatuto de writer e as suas opiniões bem traçadas.
SEEN e Dondi já tinham uma reputação consolidada nas ruas, graças aos seus trabalhos não só nos comboios como em paredes da cidade. Aliás no documentário aparece-nos SEEN com colaboração de DUST na elaboração de um grande mural sob a observação de muitos mirones.
Case2 era um caso sério de talento apesar de só possuir um braço. Não o impedia de ter uma vocação notável para o graffiti, sendo altamente respeitado no meio pelo seus wildstyle fantásticos, por vezes praticamente ilegíveis, mas de uma qualidade tremenda.
DEZ, na época com uns tenros 16 anos, fazia-se acompanhar por TRAP de 14, ambos se distinguiam pela sua juventude, mas em toda a filmagem é recorrente encontrarem-se menores de idade com um conhecimento profundo das rotinas do graffiti nova-iorquino.
E finalmente, CAP. O mais controverso, o mais odiado, o mais solitário. O writer"mais" e já vão perceber porquê.
De entre todos aqueles que partilhavam aquela realidade, ele era simplesmente o mais detestado porque tinha uma personalidade muito forte e peculiar, consequente de uma postura perante o graffiti muito diferente e que chocava imenso com a restante classe de writers.
Por suas palavras, ele diz-nos que as suas preocupações estéticas e qualitativas no que fazia eram secundárias, o que interessava era a quantidade, o seu lema era “Mais e mais”, ou seja, não interessa a maneira como o faz mas sim o número de vezes que o faz. Foi aqui que começou a ser detestado pois a sua filosofia levava-o a crossar tudo e todos. Por vezes certos writers tinham acabado de pintar as suas peças e mesmo antes de os comboios saírem para circulação já as pinturas estavam crossadas. Provavelmente, a maior frustração de um writer devido ao desperdício de recursos e ainda por cima sem qualquer testemunho fotográfico.
CAP não demonstrava quaisquer remorsos e ele próprio não se designava como “Graffiti artist” mas sim “Graffiti Bomber” ou então por “King of Bombing”.
O documentário descortina também o preconceito de todo o writer ser negro ou hispânico porque também existiam muitos brancos a fazê-lo. Retrata igualmente as primeiras galerias de arte a acolherem e exporem graffiti e também a oposição do Mayor Koch e das autoridades (MTA) à actividade ilícita com todas as suas estratégias dissuasoras desde campanhas publicitárias, vedações duplas com arame farpado, cães entre as vedações e ainda limpeza regular das carruagens. Tudo isto contribuiu para o decréscimo da actividade e os comboios passaram a ser preteridos por outros suportes mais viáveis e menos problemáticos.
Estas medidas serviram eficazmente para diminuir a actividade em comboios mas isso jamais iria acabar com o graffiti, tal como comentaram os intervenientes no documentário, porque este já fazia parte da cidade e até se tinha tornado numa imagem de marca. Daí em diante foi-se reformulando e expandindo até se tornar naquilo que hoje é, apesar de todas as iniciativas para abafá-lo.
Hoje em dia podem encontrar facilmente o documentário pela rede. No Youtube dividido em partes e ainda com extras, incluindo entrevista com o realizador (já falecido) e alguns dos intervenientes passados mais de 20 anos.
Pedacinhos de história…
Entrevista a Tony silver
Skeme (…20 anos depois)
Style Wars Out Takes
Style Wars Outtakes (DONDI)
B-Boy Ken Swift ( …20 anos depois)
B-Boy Crazy Legs (…20 anos depois)
Style Wars ( Full Video )
Para terminar deixo uns versos que vi numa parede do Porto há uns anos.
"Graffiti é arte
Arte é cultura
Tentam abafá-la
Mas ela perdura!!!"
Nota final: Documentário imprescindível de ser visto...