Black Milk - Album of the year
O príncipe de Detroit está de volta com o seu aguardadíssimo terceiro disco. Com um início de carreira auspicioso, cedo foi rotulado como o substituto natural de J-Dilla, isto ainda num período de luto pela estrela maior da cidade e também num de hibernação criativa de todas as outras referências ( Slum Village, Eminem, Royce 5'9, entre outros).
Muito antes de os seus discos a solo seres referenciados, a este já cabia a responsabilidade de produzir para um grupo tão mediático quanto Slum Village, a par do seu colega Fat Ray, o outro membro da dupla B.R.Gunna.
Como ficou subentendido no primeiro parágrafo, o disco de estreia Popular Demand foi o suspiro de alívio para aqueles que não acreditavam numa reformulação tão imediata da Motown.
Entre a estreia e o "difícil segundo álbum" B.M. tornou-se num dos rookies mais desejados do "draft" de produtores, desmultiplicando-se em participações, não só nas batidas como nas rimas.
Se em Popular Demand ainda se falava na proximidade com a sonoridade imposta por Dilla, já Tronic foi mais uma prova de que Black Milk pretendia ser dono e senhor do seu próprio destino, afastando-se do rótulo e do fardo que lhe pretendiam colocar. Tronic, como o próprio nome indica, resulta de influências mais orgânicas e electrónicas, relegando para segundo plano os orelhudos samples soul ou de funk. Nesta altura, Black Milk já demonstrava um grande apreço por baterias expressivas na sua fórmula. Um caminho que tem vindo a explorar imenso, de tal modo que já se tornou numa das suas imagens de marca. Tal como no cinema se fala em "cinema de autor" aqui podemos aplicar a analogia a " produção de autor".
"Album of the year" mais que uma designação pretensiosa para um título de um álbum é, na realidade, o retrato musical do último ano da vida do artista, tal como o mesmo refere logo na abertura. E talvez não seja por acaso que o disco tenha apenas doze faixas. Doze temas que perfazem uma viagem sonora de 55 minutos onde se encontram diluídos acontecimentos relevantes na vida de B.M.
"365" abre as hostes num tom retrospectivo e esclarecedor do verdadeiro intuito do disco. Aqui nomeia alguns factos pessoais marcantes nomeadamente a morte de Baatin, membro fundador dos Slum Village.
"Welcome (Gotta go)" e "Keep Going" seguem a mesma dinâmica inicial, aparentando até alguma anarquia resultante de uma qualquer jam session que pode provocar alguma estranheza inicial, embora comece a fazer sentido após sucessivas audições.
"Oh girl" representa o típico hino ao sexo oposto, que certamente, também deve ter tido um papel bastante significativo durante último ano do produtor/rapper.
"Deadly medley" traz uma troca de punchlines entre intervenientes, provavelmente, o trio mais mediático de Detroit do momento (excepto Eminem), ou seja, Black Milk, Royce e Elzhi, estes dois últimos representando duas eras do HipHop da cidade. Também em "Black& Brown" há troca galhardetes com entre B.M e Danny Brown, uma personagem que tem vindo a fazer um buzz interessante no underground americano através de pequenas participações como esta.
"Round of applause" soa a algo já conhecido no reportório do produtor pois trata-se de um tema muito semelhantes ao single de Tronic, "Give the drummer sum". Aliás esse single enquadrar-se-ia perfeitamente no alinhamento deste disco.
Na combinação de dois aspectos essenciais: escrita e produção. Album of the year é a colheita de mais apurada de Black Milk e onde este binómio melhor se conjuga.
A produção, tal como foi dito, é o aspecto mais destacável porque marca definitivamente um estilo próprio, um carimbo sonoro que nos permite (já) identificar o seu "toque" tão naturalmente como identificamos uma batida de Premier, Dre ou Timbaland. (reparem que no final de cada faixa a duração desta prolonga-se mais que o habitual até acabar em definitivo, quase como se o autor quisesse um parte inicial rimada e uma final só instrumental)
Já no que toca às rimas, o discurso está mais assertivo e confiante. O flow está mais perpicaz e maleável, com uma maior preocupação na dicção devido às rimas internas, agora mais exploradas.
Quanto ao conteúdo, é pena Black cair na redundância do egotrip e da rima livre onde o ouvinte se acaba por perder a meio e se deixa levar apenas pelo apelo da batida.
Embora não seja surpresa nenhuma, um produtor/ mc se destacar em apenas um dos campos, pois encontrar um excelente produtor e mc é tão provável como encontrar um excelente futebolista ambidestro.
"Album of the year" certamente que não será o disco do ano, apesar de ir constar na lista de nomeados. Mas, ficou patente que Black Milk é um dos produtores mais prolíferos e vanguardistas do HipHop contemporâneo.
Nota: na review foi considerado Popular Demand como disco de estreia de Black Milk, apesar de algumas fontas considerarem que esse tenha sido já o seu segundo disco oficial.
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