Tote King - El lado oscuro de Ghandi


É com bons olhos que o rap espanhol vê o regresso de um dos seus filhos pródigos. Não queria arriscar mas parece-me ser, a par de Nach, o mc espanhol mais exportável.

Para aqueles que contactam pela primeira vez com este, Tote King é um dos nomes mais sonantes do HipHop espanhol. Proveniente de Sevilha, uma cidade reputada no meio, não fossem os veteranos SFDK, Juaninacka, Mala Rodriguez ou até Shotta ( irmão de Tote) oriundos da mesma cidade.

Tote, conta já com um percurso discográfico bastante significativo com cerca de 10 anos repartidos em prestações individuais, em parceria com seu irmão Shotta ou então com o colectivo sevilhano "Alta Escuela".

Nas primeiras mixtapes e álbuns onde participou distinguia-se pelo seu flow rendilhado e pertinência nos versos. Os seus primeiros discos oficiais, a solo, "Tu madre es un foca"( neste ainda em parceria com Shotta) e "Musica para enfermos" revelou o imenso potencial deste rapper que acabou por ser consagrado à terceira em 2006 com o magnífico "Un tipo cualquiera". Um título apontado ao facto de que não era preciso ser excêntrico para ser rapper.

Não foi necessário muito tempo ou sequer marketing para concluir que estávamos perante um dos discos mais sensacionalmente escritos e rimados na língua de Cervantes.(podem ler a minha reação ao álbum após o ter escutado pela primeira vez)

http://primouz.blogspot.com/2008/10/toteking-un-tipo-cualquiera.html

Os discos de Tote caracterizam-se pelo vasto campo temático, indo desde a mensagem interna para a cultura HipHop até aqueles temas universais para jovens e velhos dos 8 aos 80. Seria até compreensível o decréscimo a referências ao movimento já que, normalmente, essa fase dá-se no início da carreira de muitos mc's e de maneira a evitar saturação temática esse aspecto acaba por ser menos abordado. No entanto, saluta-se o activismo de TOTE, concentrando neste disco uma série de recados para o HipHop enquanto estilo musical e cultura. Aqui podemos enquadrar faixas como "Otro opositor opositando", "Hemos llegao", uma espécie "I used to love H.E.R" espanhola em "Loco por ti" e indubitavelmente "La parte más fea de mi curro"

Em outra face do prisma surgem temas mais genéricos e direccionados aos vícios e comportamentos da população, tendo como porta-estandarte, o exuberante " Redes sociales", escolhido como primeiro single do disco.



Há ainda tempo para o clássico egotrip, para o beat pujante do storytelling em "El Paseo" e ainda uma dedicatória muito pessoal em "NBA".

A realçar o facto deste disco, ao contrário dos anteriores, não ter qualquer convidado para além dos beatmakers. Já os produtores podem-se contar cerca de dez, com destaque para o velho companheiro de Tote, Dj Randy. Apesar do risco associado ao convocar 10 produtores diferentes, vindo de um mc tão versátil acaba por não ser estranho nem prejudicar o resultado final porque ao mc cabe a responsabilidade e o desafio de dar coerência à sequência de batidas seleccionadas previamente por ele. Algo a que Tote correspondeu inteiramente.


"El lado oscuro de Ghandi" é um bom registo para quem não conhece TOTE KING passar a interessar-se por esta grande personalidade do HipHop do país vizinho e até para ostracizar algumas reticências que muitos ouvintes portugueses têm com o HipHop espanhol.

Disco que não se consome à primeira, ou seja, com direito a audições repetidas pois em cada uma revela-se um novo detalhe.



EXTRAS

Entrevista NST a Tote King ( Vídeo)

http://www.myspace.com/toteking1

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