Austeridade

O Governo anunciou ontem uma série de medidas de austeridade, que vão mexer e muito nos bolsos dos portugueses, visando combater a crise económico-financeira em que Portugal mergulhou. É hora de apertarmos o cinto, dizem-nos. Mas não é isso que andamos a fazer há anos a fio? E a crise? Há quanto tempo estamos em crise? Já todos percebemos que vivemos em crise permanente e que não há governantes alguns que resolvam este problema de fundo.

O que vem aí então: aumento do IVA para 23%, cortes nos salários da Função Pública, cortes nas prestações sociais e nas pensões, congelamento de aumentos salariais... Em suma, os portugueses que já estavam mal vão passar a viver pior, com muitas mais dificuldades, com muitas mais pressões, vão verdadeiramente penar! Em abono de quê? Da satisfação dos mercados financeiros internacionais, da especulação, da redução do Monstro a.k.a. défice do Estado, do pagamento de taxas de juro mais baixas.

Os cidadãos vão pagar a sua factura. E os governantes, que lhes vai acontecer por deixarem chegar o país a este estado calamitoso? Vão continuar a viver como reis porque pouco lhes pesará no bolso a adopção destas medidas! Devia acontecer como com o governo da Islândia que por levar o país à bancarrota foi julgado em tribunal, foi responsabilizado! Aqui ainda temos de ver Sócrates do alto da sua importância a anunciar como suas estas medidas, quando toda a gente sabia da inevitabilidade delas! A sua maior culpa é ter consentido que chegássemos onde estamos: na lama.

Esta ofensiva aos trabalhadores só servirá para os deixar mais empobrecidos, fará aumentar o desemprego e como não há uma estratégia ou incentivos ao investimento e às exportações continuará a recessão. É preciso afastar estes políticos incompetentes que ao longo dos anos têm gerido as nossas vidas. São sucessivos os governos que não conseguem reformar a Administração Pública e que são incapazes de controlar as despesas do Estado, qual monstro insaciável.

Os mais desprotegidos da sociedade irão ser brutalmente castigados com este pacote de medidas. O aumento do IVA será terrível mas é a forma mais fácil do Governo ter dinheiro em caixa. Isto é, se não aumentar a evasão fiscal! O que parece muito provável e que deixará o Estado com um ataque de nervos pois as contas podem sair-lhe furadas, não encaixando o esperam.

A greve, a contestação, a união do povo serão algumas das formas de luta para se mostrar a indignação e a repulsa por estes governantes irresponsáveis, que urge afastar da esfera política para sempre! Erradicação, já! É toda uma política errada que vem sendo feita desde há muitos anos até esta parte. Os culpados têm de ser chamados à pedra. Nada mais pode ficar na paz do Senhor, nem a culpa pode morrer solteira! É preciso acabar com a podridão. O povo é que paga sempre a crise. Até quando?

Dado o arrastamento da situação que o país vem atravessando há longos anos, pensar-se-ia que o Hip Hop seria mais activo em arranjar formas de se manifestar contra este preocupante alarme social e safadeza dos governantes. Mas nem por isso. São poucos aqueles que dentro do Hip Hop se movem para não calar a sua revolta. É nesta hora tão importante, tão brutal, tão dolorosa, que todos somos chamados a intervir, a posicionarmo-nos. Não tenho dúvidas da força que o Hip Hop mostraria caso entenda fazê-lo, caso pretenda fazer essa tentativa. Claramente que há um longo filão para se explorar. É que chegou também o momento de sermos austeros, no que quer que façamos, com esses governantes de meia tigela que mentem com quantos dentes têm na boca e que nos obrigam a tamanho sacrifício. Eles deviam era lavar a boca com lixívia ou ácido de cada vez que falam em sentido patriótico para adoptarem medidas destas! Onde está o patriotismo deles ao fazerem tanto mal a este país, em levarem-no à bancarrota e em pedirem sacrifícios aos mesmos de sempre? Vassourada! Não lhes podemos dar paz! Teremos de ser nós o Tribunal que os julga! E sem demora.

Arte, Estética & Crítica

O que é a arte? Bem, esta é uma definição complexa, dada a multiplicidade de respostas. Genericamente, pode considerar-se como arte o fabrico consciente de beleza. A arte procura exprimir a realidade objectiva, assim como o Homem e a sua maneira de ver o mundo. Em todo o processo, aspira-se a que a acção revele sinceridade. A norma artística e universal, aquela que sobrevive a todas as flutuações do gosto, é a integridade do ser. Ou seja, é o Homem na sua compreensão total e a manifestação do universo em toda a sua verdade.

Modernamente, a racionalidade imiscuiu-se na realidade para que esta se tornasse cada vez mais compreensível aos nossos olhos. Numa obra, podemos vislumbrar sempre dois pólos: o artístico e o estético. O artístico refere-se à criação do autor, o estético é a realização empreendida pelo receptor, aquele que se confronta com a obra. Resulta daí o seu entendimento daquela peça artística, que pode perfeitamente dar azo a múltiplas interpretações mediante seja sentida por diferentes pessoas. É importante fazer notar que percepcionamos a beleza de modo espiritual e sensível porque a nossa inteligência para atingir essa percepção do belo precisa do concurso da imaginação. Assim, quanto mais perfeito for esse concurso, quanto mais inteligentes e imaginativos formos, tanto mais perfeito e total será esse encontro imediato com a beleza.

A crítica é a arte de julgar do poder expressivo das obras artísticas. Em boa verdade, o acto fundamental da crítica é o de dizer: isto é bom ou isto é mau. Isto acontece porque houve necessidade de fazer essa avaliação, a fim de se preservar e valorizar o que é belo. O crítico é aquele que faz o caminho inverso ao do artista. É aquele que contempla a criação feita e que abraçando-a procura explicar as sensações que derivaram desse abraço. A interpretação é ela mesmo um desígnio criativo. A obra torna-se um produto da interacção, do relacionamento, com o receptor. Se no criador de beleza há qualquer coisa de misterioso, no modo como nele andam unidos alma e corpo, também o crítico guarda a virtude imprescindível: a de saber ir ao encontro da significação da obra com uma natureza compreensiva, sensível e carregada de bom senso, que lhe permita fazer sobressair a verdadeira essência daquela obra no meio das muitas sugestões que lhe possam surgir diante. No fundo, a crítica é a arte de sentir, sendo certo que não existirá nenhuma norma absoluta para se julgar as obras de arte. Simplesmente, belo é o que agrada. Saliente-se a surpresa como o valor supremo do gosto: contraria o hábito, é algo que é estranho e que leva ao prazer, rompendo com o que se esperaria.

O Hip Hop é arte? Sim. O Hip Hop tem uma estética própria? Com certeza. O Hip Hop precisa da crítica? Claro. Porquê? Desafio os leitores do Bloggers Reign Supreme a expressarem as suas opiniões relativamente às perguntas que formulei. Têm a palavra!

Fenómenos

Quando pensamos em fenómenos vem-nos instantaneamente à baila na cabeça o Entroncamento e o futebolista brasileiro Ronaldo, que hoje até carrega mais a alcunha de gordo do que qualquer outra coisa. No entanto, há mais fenómenos para admirar. Particularmente no rap português. É o caso de Deau e de Bónus.

Ambos não têm álbuns ou mixtapes editadas em nome próprio. Só têm participações em compilações ou em álbuns alheios. Todavia, têm uma enorme e entusiasta trupe de admiradores por todo o país, o que é assinalável para quem nunca experimentou a edição de um trabalho individual. Há factores parecidos na vida artística de ambos, pontos de ligação, que certamente contribuíram para esta aura mística que envolve os dois rappers.

Na verdade, com tão pouco trabalho feito, já têm um vasto reconhecimento. Mas o que contribuiu então para isso, sendo eles rappers que estão, por exemplo, nos antípodas de NGA, que é um incansável trabalhador de raps? Claro que a aclamação de que gozam deriva do imenso talento que desde logo revelaram. Não podia ser de outra forma. A grande capacidade lírica deles capta-nos à primeira audição. Depois cria-se uma enorme expectativa sobre o que serão capazes de fazer a seguir, aguardando-se sempre uma surpresa brutal, capaz de nos deixar novamente rendidos às suas imensas qualidades.

Deau é mestre no freestyle. Bónus é mestre em captar o sentimento da ruas. Deau traz garra para o palco. Bónus traz mentalização nas rimas. Deau irradia espontaneidade e transpira emocionalidade pela pele. Bónus é um pensador social, um repórter dos bairros, de escrita refinada. Diferentes no estilo, com origens díspares, mas iguais no talento. Inteligentes, com flows atraentes e mensagens entusiasmantes, ambos já marcaram o rap português, mas prometem-lhe ainda muito.

Curiosamente, Deau e Bónus não se preocupam muito com a sua imagem e com a exposição do seu trabalho, o que é um facto interessante. Talvez isso até ajude a explicar a avidez, a permanente vontade, em saber deles, pois não nos desgasta a sua imagem e só nos aumenta a curiosidade em contemplá-la. Poderá ser uma estratégia ou não, mas é certo que ajuda a dar-lhes essa certa mística à qual atrás me referia. Numa era da internet e de exaustiva divulgação de trabalhos por tudo o quanto é redes sociais, Deau não tem Myspace e Bónus abandonou o seu faz muito tempo. Isto é elucidativo de que nunca precisaram disso para se darem a conhecer. Bastou-lhes umas meras colaborações para que o génio de ambos ficasse bem gravado na memória de quem os escutava.

Serão eles capazes de revolucionar o rap português quando aumentarem o currículo? Só o tempo o dirá. O que apraz mencionar é que se ambos continuarem a dedicar-se ao Hip Hop, todos ganharemos, devido às potencialidades que demonstram e por tudo aquilo que já representam. Sabe-se que ambos pretendiam lançar álbuns individualmente. Oxalá venham o mais depressa possível para as ruas e que vitaminem o Hip Hop português, fazendo dele um movimento cada vez mais fenomenal.


Portugalidade... numa perspectiva HipHopiana

“É cultural, fado, Fátima e futebol
Lança fogo no alto para entreter o povo todo
É a máxima de Portugal
É fundamental, subsídios para a corrupção
Lança fogo no alto para entreter o povo todo
É a sátira de Portugal”

in «Portugal Surreal» de Dealema

Neste trecho, Dealema identifica três particularidades do ser-se português. Com o fado, Fátima e futebol podemos explicar algo da cosmologia social portuguesa, à luz de um conjunto de práticas, de acções, geradas neste nosso espaço Portugal.

Estivemos sem respirar a liberdade, já após a Implantação da República, durante 48 anos (1926-1974)! Com esta privação de elevado índice temporal, é natural que marcas muito profundas persistam até hoje. O povo ficou com a sua vida afectada pois sofreu o autoritarismo, a castração e repressão, os excessos do nacionalismo, o drama do colonialismo e o conservadorismo de um regime com um impregnado teor católico e tradicionalista, comandado pela figura do grande chefe Salazar. A máquina repressiva, com a PIDE na dianteira, controlava as massas com a censura, com a propaganda do regime, semeando o medo e impondo a sua doutrina através de organizações como a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa. A moral reflectia-se nos princípios da Igreja Católica.

O totalitarismo e a consequente falta de pluralidade na sociedade portuguesa atrofiou, em grande medida, quaisquer proeminências ao nível das ciências, tecnologia e cultura. É que Salazar vivia aterrorizado com a modernização de Portugal, colocando-lhe rédea curta, sob pena de ver perder os valores religiosos e a componente rural e atrasada (com altas taxas de analfabetismo) característica do país. Assim, a transformação cultural não era uma realidade e o país distanciava-se cada vez mais do avanço dos restantes países europeus.

O fado é português. Logo, era uma marca patriótica e representava o tal tradicionalismo que ia ao encontro dos interesses do regime. Além disso, os fados faziam a apologia da vida madastra, pobrezinha, humilde, sofredora, que exige sacrifícios, mas sempre com a regra de ouro de ser politicamente correcta. Fátima também é conectável com as particularidades de ordem nacional e conservadora, representando aqui o aspecto específico da religiosidade. A divindade, a adoração, a devoção a Fátima seria a metáfora pretendida para o próprio regime. Salazar intitulava-se o “salvador da pátria”, engajado apenas com a nação, desejando a aceitação do povo, ainda que usasse a repressão para cinicamente a obter, assim como uma fidelidade sem limites baseada num cargo praticamente vitalício, onde toda a oposição era praticamente silenciada.

O futebol era tido como a componente lúdica, uma espécie de versão moderna dos circos romanos. As pessoas esqueciam a vida de miséria nos momentos em que se concentravam nesse desporto. O facto de os futebolistas portugueses mais os nascidos nas colónias serem de eleição e terem granjeado feitos e conquistas importantes, quer ao nível de selecção quer ao nível de clubes, ajudou a que o regime sentisse a tentação de espelhar essa glória e esse brio através dum forte apego, marcadamente oportunista e interesseiro. Aliás, fado e Fátima também eram uma distracção para que se camuflassem os problemas e o estado do país.

Mas hoje faz ainda sentido essa tríade? Se não faz, facilmente se encontram substitutos. Porventura, o fado já não goza da popularidade que tem actualmente a designada música pimba. Mas ambos os géneros se aproximam em certos pontos. A música pimba chega às massas, tem um cariz totalmente virado para o entretenimento e canta alguns tópicos da ruralidade vigente em Portugal. Ao contrário do fado, a música pimba tem a agravante de ter uma péssima qualidade. Apesar de sermos ainda um país muito católico e devoto ao culto de Fátima, mesmo quando as pessoas se desligam da religiosidade são-nos apresentadas “virgens” e divindades de carne e osso prontíssimas a estupidificar-nos! A máquina propagandística serve aqui os interesses económicos através da mediatização de certas pessoas, o que conduz à idolatração e à vontade de imitação, em virtude da condição terrena dos adorados. Todavia, a fatídica conclusão é que tal como em Fátima também aqui se vive a ilusão. E o futebol está tão na ordem do dia que nem é necessária profundidade sobre isto. Há intelectuais que o consideram como cultura. Mas é inegável que o futebol ainda hoje é usado e está próximo dos meandros políticos, correndo sempre o risco de ser instrumentalizado. Para além do pressuposto de continuar a ser o circo romano dos tempos modernos. Vide Cristiano Ronaldo em Madrid! As pessoas que assistiram à sua mega apresentação no Estádio Santiago Bernabéu, aquando da sua chegada ao Real, muitas delas são com certeza os novos pobres, vítimas do desemprego, que anseiam pelo “pão” mas que só lhes é dado o entretenimento, vulgo “circo”.

Em Portugal, onde o desemprego aumenta, assim como as desigualdades e onde a corrupção é uma realidade, a portugalidade ainda se reflecte nos pontos enunciados por Dealema. 36 anos depois do insípido período ditatorial, 36 anos depois de nascer o Hip Hop no Bronx, o nosso país mudou muito e depressa como sociedade em alguns parâmetros. Mas quem diria que a tal tríade – com algumas nuances atrás explicadas – se manteria ainda actual mais de três décadas depois?! Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é Portugal.

Cabe-nos a nós, geração do Hip Hop, pegarmos na filosofia que rege a nossa cultura e inspirarmos e ajudarmos este país a recuperar a decência. Que do Hip Hop, com este brilhante exemplo de Dealema, continue a brotar gente da estirpe de Zeca Afonso, de Fausto, de Godinho, entre outros, que ajudaram com a sua arte, com a cultura, a combater o mal instituído em Portugal. Porque todos queremos um país melhor!

Style Wars 2.0


Não. Style Wars não irá ter uma sequela nem um dos tão famosos remakes. No entanto, este texto explica-se através de duas razões:


  • Trata-se sim do reaproveitamento ou reciclagem de um texto acerca do mesmo tema, o qual fiz à 4 anos atrás

  • Surge também do facto de no início deste mês se ter realizado uma acção de beneficência para ser possível restaurar/conservar a película original e as muitas horas de filmagem não incluída neste lendário documentário.


Style Wars, foi um nome que sempre esteve presente no pensamento desde o meu primeiro interesse pelo graffiti. Recordo-me bem de ter lido uma entrevista ao lendário SEEN (na extinta e velhinha Subworld ( ver abaixo)) e a referência a este como um dos melhores writers da altura (King of the Kings).E eu, na minha inocência, continuava a questionar-me o que seria o tal Style Wars.







Mais tarde apercebi-me de que se tratava de um documentário acerca de graffiti e "algo mais" e depois de visioná-lo fiquei deliciado com o que vi. Está realmente fantástico pois contrapõem perspectivas dos writers, dirigentes autárquicos, polícia, críticos de arte, jornalistas, simples transeuntes, utentes do metro de NY e até uma mãe de um writer. E daqui surge o conceito ”Style Wars”. Da antítese de opiniões entre os writers e uma Nova Iorque inteira e da competição interna entre eles, num jogo de afirmação pessoal perante os seus pares. Portanto estávamos perante duas guerras de estilos: estética e de vida.

O documentário tem um fio condutor excelente e as explicações estão todas lá, obtidas a partir de um trabalho bastante pormenorizado e rigoroso, resultante da cumplicidade que o realizador Tony Silver e o fotógrafo Henry Chalfant foram fomentando com o evoluir do projecto.

O graffiti surge devidamente enquadrado na cultura HipHop, do qual são apresentadas as 4 vertentes com especial realce para o B-Boying, com filmagens da competição promovida entre RockSteady Crew e Dynamic Rockers. O djiing e mciing são apresentados quase como um só e o graffiti, era sem dúvida alguma, a “ovelha negra da família”, isto é, o mais controverso.

Tudo começa na década de 70, em Nova Iorque, por Taki 183 que inscrevia nas paredes o seu tag, ( nº era correspondente ao nº da sua porta), acabando com este a ser conhecido por toda a cidade. A moda pegou e a partir daí foi um festival de tagging, surgindo outros nomes como Papo 184, Junior161, Cay161, Stitch 1, e duas raparigas Barbara62 e Eya62. A partir daí os anos 70 ficam notabilizados como a década dos pioneiros e de desenvolvimento de estilos.

Uma nota especial, Taki 183,cronologicamente,não foi primeiro mas sim aquele que alcançou maior notoriedade tal como o documentário relata.

Somos confrontados com diferentes perspectivas de vários writers com destaque para Skeme, Seen, Dondi, Case2, Dez (actual Dj Kay Slay) e o odiado CAP.

É captada a preocupação de uma mãe e a sua oposição às actividades do filho (Skeme), mas não é por isto que este deixa de o fazer, sendo sincero com a sua mãe, não omitindo o seu estatuto de writer e as suas opiniões bem traçadas.

SEEN e Dondi já tinham uma reputação consolidada nas ruas, graças aos seus trabalhos não só nos comboios como em paredes da cidade. Aliás no documentário aparece-nos SEEN com colaboração de DUST na elaboração de um grande mural sob a observação de muitos mirones.

Case2 era um caso sério de talento apesar de só possuir um braço. Não o impedia de ter uma vocação notável para o graffiti, sendo altamente respeitado no meio pelo seus wildstyle fantásticos, por vezes praticamente ilegíveis, mas de uma qualidade tremenda.

DEZ, na época com uns tenros 16 anos, fazia-se acompanhar por TRAP de 14, ambos se distinguiam pela sua juventude, mas em toda a filmagem é recorrente encontrarem-se menores de idade com um conhecimento profundo das rotinas do graffiti nova-iorquino.

E finalmente, CAP. O mais controverso, o mais odiado, o mais solitário. O writer"mais" e já vão perceber porquê.
De entre todos aqueles que partilhavam aquela realidade, ele era simplesmente o mais detestado porque tinha uma personalidade muito forte e peculiar, consequente de uma postura perante o graffiti muito diferente e que chocava imenso com a restante classe de writers.

Por suas palavras, ele diz-nos que as suas preocupações estéticas e qualitativas no que fazia eram secundárias, o que interessava era a quantidade, o seu lema era “Mais e mais”, ou seja, não interessa a maneira como o faz mas sim o número de vezes que o faz. Foi aqui que começou a ser detestado pois a sua filosofia levava-o a crossar tudo e todos. Por vezes certos writers tinham acabado de pintar as suas peças e mesmo antes de os comboios saírem para circulação já as pinturas estavam crossadas. Provavelmente, a maior frustração de um writer devido ao desperdício de recursos e ainda por cima sem qualquer testemunho fotográfico.

CAP não demonstrava quaisquer remorsos e ele próprio não se designava como “Graffiti artist” mas sim “Graffiti Bomber” ou então por “King of Bombing”.

O documentário descortina também o preconceito de todo o writer ser negro ou hispânico porque também existiam muitos brancos a fazê-lo. Retrata igualmente as primeiras galerias de arte a acolherem e exporem graffiti e também a oposição do Mayor Koch e das autoridades (MTA) à actividade ilícita com todas as suas estratégias dissuasoras desde campanhas publicitárias, vedações duplas com arame farpado, cães entre as vedações e ainda limpeza regular das carruagens. Tudo isto contribuiu para o decréscimo da actividade e os comboios passaram a ser preteridos por outros suportes mais viáveis e menos problemáticos.

Estas medidas serviram eficazmente para diminuir a actividade em comboios mas isso jamais iria acabar com o graffiti, tal como comentaram os intervenientes no documentário, porque este já fazia parte da cidade e até se tinha tornado numa imagem de marca. Daí em diante foi-se reformulando e expandindo até se tornar naquilo que hoje é, apesar de todas as iniciativas para abafá-lo.

Hoje em dia podem encontrar facilmente o documentário pela rede. No Youtube dividido em partes e ainda com extras, incluindo entrevista com o realizador (já falecido) e alguns dos intervenientes passados mais de 20 anos.
Pedacinhos de história…

Entrevista a Tony silver
Skeme (…20 anos depois)
Style Wars Out Takes
Style Wars Outtakes (DONDI)

B-Boy Ken Swift ( …20 anos depois)

B-Boy Crazy Legs (…20 anos depois)

Style Wars ( Full Video )



Para terminar deixo uns versos que vi numa parede do Porto há uns anos.

"Graffiti é arte
Arte é cultura
Tentam abafá-la
Mas ela perdura!!!"


Nota final: Documentário imprescindível de ser visto...

Sugestão de Leitura

Há uns saudosos anos, tive a felicidade de descobrir um livro que muito me ensinou sobre o Hip Hop, ajudando-me a ter uma visão mais fidedigna sobre as propriedades deste movimento. O livro chama-se “Ritmo & Poesia – Os Caminhos do Rap” e tem como autores António Concorda Contador e Emanuel Lemos Ferreira. Teve a chancela da Assírio & Alvim, conhecendo edição em 1997.

Com apresentação de Alexandre Melo e fotos de Patrícia Almeida com gente como Bambino, General D ou Pacman, este livro surgiu como proposta de trabalho dos autores enquanto alunos da cadeira de Sociologia da Cultura do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa).

Na introdução do manual, estão inscritos os motivos que levaram os redactores a escrever “um livro sobre um género musical incómodo movimentando-se nas águas conturbadas do politicamente incorrecto”. Era sua preocupação, interesse e curiosidade, estudar o rap de acordo com a sua posição na sociedade da altura, descortinar o alcance das letras e perceber a linearidade do ritmo e a crueza e dureza sonora. O papel do rapper, a sua definição e predicados, também não foi descurado nesta análise que empreenderam. Em linhas gerais, o objectivo passou por dimensionar o rap nos estratos sociais, culturais e políticos, bem como traçar o diagnóstico da sua vida, desde o embrião ao corpo adulto, não esquecendo as derivas que tomou, nomeadamente no que respeita às correntes e tendências do estilo musical.

Assim, estruturado o livro em vários capítulos, vemos desvendada a origem do Hip Hop e a explicação de cada uma das suas vertentes; narra-se o impacto da cultura e a progressão que teve na América e posteriormente no mundo (mais adiante no livro); afloram-se marcos inesquecíveis do rap como a Golden Age, a Daisy Age, entre outros; aborda-se o rap que florescia na altura em que o livro foi escrito, antes de 1997, e encontramos aí a proeminência de nomes como Tupac, Ice Cube, Krs-One, Public Enemy ou Gangstarr, sendo longa a lista de nomes e grupos mencionados; tecem-se ainda algumas considerações ao pós-rap, particularmente ao surgimento do Trip Hop e do Jungle.

Posteriormente, entra-se na fase em que se procura contar a História do Rap em Portugal. Escava-se na procura da génese do género entre portas, revela-se a escolha do Inglês para a expressão dos primeiros raps de artistas nacionais, até à decisiva vinda a Portugal de Gabriel, o Pensador, que mostrou que o rap podia fazer perfeito sentido emitido na língua portuguesa. Os autores explicam o peso histórico do disco “Rapública” e lançam o seu olhar sobre os protagonistas que faziam o rap português viver como Boss AC, General D, Mind da Gap, etc. A parte final do livro contempla uma série de entrevistas a gente ligada ao movimento em Portugal como Double V, José Vaz (radialista), Makkas, Presto, DJ Yen Sung. O livro fecha com um pequeno glossário de calão compilado por Dire.

Recomendo vivamente a leitura deste livro, ainda que só trate da História do Rap e do Hip Hop até 1996. É interessante porque descreve o seu pré-nascimento, o nascimento, onde se alimentou, o modo como cresceu, os caminhos que tomou, os filhos que teve, a dimensão global que alcançou. O capítulo sobre o Rap em Portugal é assinalável pelos factos que enuncia e perfeito seria se alguém pegasse nas linhas finais deste tratado, que datam de 1996, e a partir dali contasse o que foi e o que é o rap e o movimento Hip Hop, atravessando todos esses anos até aos dias de hoje.

Grandes Malhas #90 - Scarface - The Fix (2002)


Scarface – The Fix
2002


Scarface, uma personagem intemporal do cinema imortalizado por Al Pacino, com inúmeros fãs da sétima arte e em especial no HipHop cuja personagem ganhou vida própria multiplicando-se por diversas discografias de variadíssimos artistas espalhados não só pelos EUA como pelo mundo.
Uma simples pesquisa no Google oferece-nos 3 resultados mais concretos: o filme, a alcunha pela qual era conhecido Al Capone e por último, o rapper.
Scarface, rapper originário de Houston (Texas), curiosamente a mesma cidade de Premier, é já um veterano glorificado do panorama HipHop americano. Originalmente membro integrante dos Geto Boys, cedo se destacou do restante grupo acumulando inúmeros álbuns a solo ao longo dos anos.
Numa discografia tão vasta só um seguidor acérrimo poderia indicar categoricamente um disco verdadeiramente representativo de Scarface, contudo a escolha centrar-se-á naquele que combinou excelentes críticas com colaborações impensáveis em somente um disco. Mais concretamente Jay-Z e Nas (coincidente com o período do beef entre estes) e ainda Kanye West, Neptunes e Nottz na produção.
Scarface sempre se caracterizou por uma linha de rap que vangloriava o glamour de ser gangster de charuto na boca e que durante os anos 90 teve imensos seguidores como Biggie, Jay-Z, Raekwon ou AZ.
Para os amantes do género, um disco a ouvir e uma discografia a descobrir.






Restantes 89 Grandes Malhas compiladas aqui.

The Roots - How I Got Over


"How I Got Over" regista o regresso dos "The Roots", agora com o seu nono álbum oficial. Naturalmente com nove álbuns há muito para contar, além do mais, demasiado para contar, tal a dimensão do percurso da mais famosa "banda" que o HipHop já conheceu. Um percurso, que em termos acumulativos, contou com bastantes membros que com os tempos se foram revezando até à composição actual que se pode ver durante o talk-show Late Night with Jimmy Fallon( LNJF) na NBC ou então na nossa Sic Radical.

Apesar das alterações da composição da banda quase de disco para disco, como se se tratasse de um clube de futebol sujeito às leis do mercado de transferências no final da época, também aqui se pôde aplicar uma velha máxima "As pessoas passam e a instituição fica" pois o trajecto de quase 20 anos manteve-se coerente aos ideais que geraram o grupo e personalizados pelos carismáticos Black Thougth e Questlove.

Falar de "The Roots" para além de aliciante é um motivo de enorme orgulho para o HipHop. Ter este tipo de porta-estandarte que vai muito além deste género musical das rimas e das batidas, sendo até comuns comentários do género " Não gosto de HipHop, mas curto The Roots" dá para perceber que as particularidades desta banda tiveram um alcance significativo.
Analisar o percurso dos Roots ao longo de todos estes anos seria um case-study interessantíssimo, porém foquemo-nos no que "How I got over" tem para oferecer.

Dados concretos: cerca de 45 minutos de duração repartidos por 14 temas, 3 deles instrumentais praticamente interlúdios e um número significativo de participações, sendo o " significativo" um atributo também qualitativo.

Sabendo da importância de uma primeira impressão, os Roots têm aqui um claro sinal de rotura com o clima mais pesado e obscuro dos dois discos anteriores, não que estes tivesssem défices de qualidade mas não eram tão acessíveis a uma primeira audição quanto este mais recente. Leituras mais precipitadas poderiam ligar isto directamente ao facto de serem a banda residente do LNJF contudo só isso não explica este regresso a um optimismo tão expressivo na primeira década do grupo.

O álbum inicia-se com "A piece of light" um suave instrumental trauteado que nos embala os sentidos para os minutos que se avizinham. Segue-se "Walk alone" sob um piano e uma bateria minimalistas onde os mc's enumeram e enfatizam os momentos de solidão e isolamento da nossa existência.

"Dear God 2.0" trata-se de uma sequela da música original dos Monster of Folk (daí o 2.0), cujo refrão ficou a cargo do próprio vocalista da banda. O tema insurge-se perante Deus com uma série de questões que o Homem eternamente fez e continua a fazer, embora sempre sem qualquer resposta concreta.




Chegados aqui, o álbum começa a querer tomar vida própria porque o volume sobe gradualmente tal como a cadência da bateria e o flow dos mc's. "Radio Daze" é o exemplo prático disso tal como "Now or never", agora com uma bateria mais comedida que a faixa anterior onde Phonte (Little Brother), Black Thought e Dice Raw se revezam ao referir a importância das oportunidades da vida e que por vezes estar no sítio certo à hora certa pode realmente fazer a diferença.

Seguindo o discurso de auto-motivador, "How I got over", o single homónimo do disco, centra-se na crua realidade da escola de rua embora se note que no fantástico refrão de Dice Raw (mais um!) está implícito o desejo de superar a situação.

Out on the streets, where I grew up
First thing they teach us, not to give a fuck
That type of thinking can’t get you nowhere
Soooome-onnnne haaaas tooooo care

Destaque ainda para a pujança deste single, que quando apresentado ao vivo no Late Night with Jimmy Fallon deixou as expectativas altíssimas para aquilo que se avizinhava.




Estamos a meio da viagem e apercebemos que as suaves transições entre os temas são uma constante, as faixas até aqui funcionam como um bloco coeso e coerente porque o binómio produção e escrita foi criando um cordão bem entrelaçado.

"The day" transpira a ideia de "Carpe diem" com o regresso com BLU e Phonte nas colaborações, destaque ainda para o critério de escolha por parte dos Roots quanto a mc's que se enquadram perfeitamente na linha de rap do grupo.

"Right on" conta com mais uma repescagem de um tema original de Joanna Newson, "The Book of Right On" do álbum "The Milk Eyed-Mender" (2004) resultando numa das faixas mais poderosas do disco.

"Doin it again" e "The Fire" materializam ambas uma lição de perseverança, tal como refrões desta vez à conta de Jonh Legend e que deixam antever aquilo que se poderá encontrar brevemente da parceria de Roots/Jonh Legend no disco "Wake up".




"Web 20/20" é o tema de alta voltagem do disco que fica marcado pelo rpm's elevados e pelas duas últimas colaborações do disco, Peedi Peedi e Truck North.

Sobra a faixa bónus "Hustla" com o mesmo STS, um dos responsáveis pelo toque de Midas em "Right On", só que desta vez sem as mesmas repercussões. A faixa dispensável do disco.

Em suma, é praticamente unânime que estamos perante um dos grandes álbuns do ano, integrante de uma das mais completas discografias que um grupo de HipHop ousou ter. Os "The Roots" não precisavam sequer de editar qualquer outro disco para figurar no Hall of Fame, contudo com um disco como "How I Got Over" o atributo " legendary" que é feito a cada apresentação da banda no LNJF é completamente justificado.

Gifted Unlimited Rhymes Universal

Certa vez, José Saramago afirmou que não acreditava na morte como passagem de um estado para outro, mas cria simplesmente na morte autêntica, na sua inevitabilidade, na dureza do hoje estamos e do amanha já não estamos. Infelizmente, o autor desta reflexão já não está connosco, bem como tantos artistas que são colhidos pela velha senhora de negro. Todavia, nas palavras a que recorri por empréstimo de Saramago, através da minha memória, reside uma apaziguadora consolação. Os génios morrem, mas o seu legado fica para sempre.

Serve a introdução sobre o pensamento de Saramago e a sua ausência terrena para prestar homenagem a um artista do Hip Hop que também ele há pouco tempo faleceu. Porém, enquanto nos lembrarmos das pessoas e elas viverem permanentemente no nosso peito, elas não estarão mortas. E quem pode esquecer ou deixar de ter a viver no peito o nobilíssimo Guru?!

Gifted Unlimited Rhymes Universal nasceu como Keith Edward Elam a 17 de Julho de 1961 (embora haja versões que indiquem que nasceu em 1966, mas segui como mais confiável a data que o sobrinho de Guru avançou no documentário que fez em sua homenagem). Guru é originário de Boston, filho do primeiro juiz negro da cidade e a sua mãe era co-directora de uma rede de bibliotecas públicas pertencentes ao sistema escolar. O jovem Keith formou-se em Gestão de Empresas e parecia destinado a ter um futuro risonho na área em que se graduara. Porém, a música mudou-lhe a vida. Apaixonou-se pelo rap, decidiu investir nesse sonho e perdeu-se quiçá um bom gestor. No entanto, o rap e o Hip Hop ganharam definitivamente um dos seus maiores ícones de todos os tempos!

Guru será incontornável na História do movimento e da música porque explorou o seu imenso talento, fazendo parelha com o prodigioso DJ Premier, num dos duos mais adorados pelo público. A química resultante entre o MC e o DJ era de tal maneira perfeita que não havia maneira de um brilhar mais do que o outro. Parecia predestinação o facto de se terem juntado, o que foi maravilhoso para o Hip Hop, pois as qualidades de ambos deram projecção e crédito à cultura, que tinha ali dois baluartes a protegê-la. A discografia de Gangstarr é ímpar e são incontáveis os clássicos que consecutivamente o duo foi colocando nas ruas.

A inteligência nas rimas e a postura na indústria musical trouxeram o respeito para Guru. Catalogado como o rei do “flow monótono”, fez disso um estilo e no ritmo pausado, que batia certinho com as majestosas batidas de Premier, lançava as suas linhas cortantes, irónicas, pujantes, pesadas de consciência. A voz inconfundível de Guru era das vibrações mais lúcidas e harmoniosas que se podia escutar no meio do xinfrim que a certa altura começou a ser o rap. Quase funcionando como um guardião de uma certa essência da fundação, das raízes, Guru mantinha-se coerente com as directrizes dos primórdios do Hip Hop, permanecia fiel à sua gente e suas dificuldades, sem nunca colocar reservas ou mordaças ao seu rap. Frontal, afirmando as suas convicções e opiniões, nunca teve a tentação de se auto-moderar, tendo em vista vender mais discos. É que apesar de toda a admiração mundial por Guru e Premier eles nunca venderam o que outros artistas do rap, mais promovidos e badalados pela máquina da música mas de tom mais ligeiro, conseguiram alcançar.

Para Guru, o mais importante sempre foi a arte e não o negócio. Gangstarr exemplifica isso na perfeição. Excelentes discos, soberbas críticas, a aclamação dos fãs de rap mas também da música, em geral. No entanto, Guru era um espírito inquieto e não lhe bastava a parceria com DJ Premier. Reforçando o apreço pela música antiga, ele inicia um projecto de nome “Jazzmatazz”, que pretendeu reunir músicos já com história e que admirava, fazendo simultaneamente o intercâmbio com jovens talentosos que despontavam. Toda a paixão pela música e magnimidade pela arte a ser posta em evidência por parte de Guru. A saga foi um sucesso que coleccionou vários entusiastas e prestava-se a celebrar a fusão do rap com os caminhos do Jazz e da Soul fundamentalmente, mas também a convivência e troca de experiências entre os antigos e os novatos. Guru era o cicerone, o mediador, o mentor. O mestre impulsionador justamente.

A vida de Guru, porém, não se fez sem atribulações. Para além do seu feitio complicado com os meandros da indústria musical, o rapper cansou-se (ao que consta) do projecto Gangstarr e decidiu dar um tempo. Correram boatos que o duo se havia extinguido e que Guru e Premier tomariam caminhos individuais. Ambos formaram as suas editoras e Guru junta-se ao produtor Solar, com quem estabelece profundos laços e edita dois álbuns através da sua 7 Grand Records. Houve muita pressão dos fãs e dos media para que Gangstarr voltasse, mas sempre que Guru abordava o assunto parecia ficar mais claro que dificilmente os excelentes MC e DJ se iriam encontrar de novo em estúdio.

Tristemente, a 28 de Fevereiro de 2010, Guru sofreu um ataque cardíaco, adoeceu, descobriram-lhe um cancro, esteve algum tempo em coma e várias situações desagradáveis eclodiram com Solar, que se assumia quase como porta-voz de Guru. Lamentavelmente, não chegava a tragédia que se abatia sobre o lendário rapper e estalava a polémica com Solar que, segundo sempre foi veiculado, pretendia lucrar com a situação de Guru e assenhorar-se de alguns direitos do legado do rapper. Infelizmente, Guru sucumbiu à doença e o seu coração parou a 19 de Abril de 2010...



Não sei se se passou como Saramago dizia ou se Guru passou de um estado para o outro ou se está no paraíso ou se assumiu uma outra forma para estar presente neste mundo. O que eu sei é que Guru está vivo. Na música que nos deixou. Na lembrança que temos dele. Guru está na galeria dos mais geniais rimadores do rap e das pessoas mais influentes de sempre da História do Hip Hop. Não há erro algum que possa ter cometido que faça com que isso deixe de ser a verdade. Partiu cedo demais... Se Guru está no paraíso, Deus tem de certeza uma predilecção secreta pelo rap e fomenta um qualquer projecto grandioso para todos os que chamou tão cedo para junto de Si. Não obstante isso, e socorrendo-me de uma brilhante ideia musicada por Fuse, e que se adapta perfeitamente ao caso do rapper americano, se Guru faleceu no mundo físico, ele há-de ser eterno nos nossos ouvidos!